
Lançado em 2020, Soul apresentou temas pouco comuns em filmes infantis. Dirigido por Pete Docter e Kemp Powers, o filme vai além da jornada de um personagem em busca de um sonho. Ele entra em reflexões sobre propósito, identidade e a própria essência da vida, algo que o torna uma das produções mais filosóficas já feitas pela Pixar.
A história acompanha Joe Gardner (Jamie Foxx), um professor de música que sempre acreditou ter nascido para ser um grande pianista de jazz. Quando finalmente surge a chance de realizar esse desejo, um acidente inesperado o leva para o além-vida. A partir desse ponto, o filme conduz o público por uma jornada entre o mundo dos vivos e o chamado “pré-vida“, um lugar onde as almas se preparam antes de nascer.
Em vez de focar na ideia tradicional de céu e inferno, Soul propõe uma visão mais simbólica da existência. O filme apresenta o “grande antes” como um espaço de descoberta e aprendizado, onde as almas encontram suas personalidades e paixões antes de chegar à Terra, uma ideia de que a vida não se resume a um destino final, mas a um processo de experiências e descobertas.
Emoção garantida
Um dos pontos que torna Soul tão especial é a forma como combina conceitos filosóficos com situações simples do cotidiano. O filme questiona a noção de que cada pessoa precisa ter um “propósito” fixo.
Joe acredita que sua razão de viver é tocar jazz, mas ao longo da história, percebe que o verdadeiro sentido da vida está nas pequenas coisas, como saborear uma fatia de pizza, observar as folhas caindo de uma árvore ou ouvir alguém rir.
Essa reflexão se aproxima de ideias presentes em correntes filosóficas como o existencialismo, que valoriza a liberdade individual e o significado que cada pessoa atribui à própria vida.
No entanto, o filme apresenta tudo sem pressa e de maneira acessível, sem precisar de discursos complexos.
A relação entre Joe e 22

Outro elemento essencial da trama é a parceria entre Joe e a alma número 22, que se recusa a nascer porque acredita que a vida na Terra não tem graça.
Essa relação cria uma dinâmica divertida e, ao mesmo tempo, profunda. Enquanto Joe tenta ensinar a 22 o que é ter um propósito, acaba aprendendo com ela que a vida vale mais pelo simples fato de ser vivida.
A interação entre os dois mostra como a busca por um “sentido maior” pode impedir as pessoas de aproveitar o presente.
Quando 22 experimenta sensações humanas pela primeira vez, como sentir o vento ou provar uma comida, o filme reforça a mensagem de que viver já é, por si só, uma experiência valiosa.
O sucesso de 22 foi tão grande que a Pixar lançou até um curta especial do personagem no Disney+, intitulado 22 Contra a Terra, mostrando eventos antes do filme.
Arte, música e autoconhecimento

A trilha sonora, composta por Jon Batiste, Trent Reznor e Atticus Ross, tem papel essencial nessa reflexão. As músicas transitam entre o jazz de Nova York e sons etéreos que representam o mundo das almas. Essa mistura cria uma atmosfera que conecta o espectador tanto à realidade quanto ao plano espiritual.
O jazz, no contexto da história, simboliza a improvisação da vida. Assim como em uma jam session, cada momento é imprevisível. Joe descobre que viver é improvisar, experimentar e se permitir errar.
Essa metáfora musical resume o espírito filosófico de Soul: não há um roteiro fixo, apenas a oportunidade de criar algo novo a cada instante.
Embora tenha sido lançado como uma animação voltada ao público infantil, Soul fala diretamente com adultos. E verdade seja dita, as crianças menores podem até achar chato. O filme provoca uma pausa para pensar sobre o que realmente importa. Em meio à correria diária, muitos acabam se esquecendo de apreciar o simples ato de existir.
Pete Docter já havia explorado sentimentos humanos em outros trabalhos da Pixar, como Divertida Mente e Up: Altas Aventuras, mas em Soul ele leva essa abordagem a outro patamar. Aqui, a questão não é apenas sentir, e sim entender por que sentimos e o que isso diz sobre quem somos.
Um filme que inspira a desacelerar

No fim, Soul não oferece respostas definitivas, mas incentiva o público a olhar para a vida com mais calma e curiosidade. A animação lembra que o valor da existência está em viver cada momento com atenção, sem esperar que tudo se encaixe em um propósito grandioso.
Com essa proposta, a Pixar entregou um filme que mistura arte, filosofia e emoção de forma rara. Soul convida o espectador a se reconectar com o que há de mais simples e, ao mesmo tempo, mais essencial: o prazer de estar vivo.
Se você é assinante do Disney+, pode assistir agora mesmo a esse belo filme que conquistou 95% de aprovação no Rotten Tomatoes e 8,0 no IMDb. Além das excelentes notas e duas conquistas no Globo de Ouro, Soul provocou um aumento de 28% no número de downloads do app Disney+ na época de seu lançamento.