Já aconteceu de você ver um trailer de um filme, achar interessante e, quando finalmente tem tempo para ir ao cinema, ele já não está mais em cartaz? Se a resposta for sim, você não está sozinho.
A duração das exibições nos cinemas mudou muito nos últimos anos, especialmente com a chegada dos serviços de streaming e as mudanças nas estratégias de lançamento. Vamos entender melhor o que influencia essa dinâmica.
O papel dos serviços de streaming
O aumento dos serviços de streaming mudou completamente o cenário cinematográfico. Além de disponibilizarem filmes logo após suas estreias, essas plataformas também produzem seus próprios conteúdos exclusivos.
Mesmo antes da pandemia, o cinema já enfrentava quedas de público devido à conveniência e ao custo mais acessível do streaming.
Como David Herrin, ex-chefe de pesquisa da United Talent Agency, comentou ao The New York Times:
“Antes, talvez você fosse ao cinema ocasionalmente, ignorando os pontos negativos. Agora, com preocupações de segurança, você simplesmente para de ir.”
A influência da pandemia
O impacto da pandemia foi enorme para os cinemas. Enquanto alguns estúdios optaram por adiar seus lançamentos, outros disponibilizaram seus filmes diretamente em plataformas de streaming. O remake live-action de Mulan, por exemplo, foi lançado no Disney+ com o custo adicional do Premier Access.
Antes de 2020, os filmes geralmente ficavam em cartaz por cerca de 100 dias antes de serem lançados em mídia digital.
Após a pandemia, essa janela diminuiu drasticamente. Atualmente, filmes da Paramount estreiam no Paramount+ após 45 dias, e produções da Universal podem sair de cartaz em menos de três semanas.
Lançamentos encerrados antecipadamente
Filmes polêmicos também podem ter exibições mais curtas. A Vida de Brian, do grupo Monty Python, enfrentou protestos religiosos e foi proibido em alguns países, mas ainda arrecadou 20 milhões de dólares com um orçamento de apenas 4 milhões.
Outro exemplo é Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, retirado dos cinemas britânicos pelo próprio diretor após associarem crimes violentos ao filme.
Já a comédia A Entrevista (2014), estrelada por Seth Rogen e James Franco, teve seu lançamento cancelado após ataques hackers ligados à Coreia do Norte.
O efeito dos Blockbusters em 2023
Em 2023, lançamentos como Barbie e Oppenheimer atraíram grandes públicos e tiveram exibições prolongadas. Barbie retornou aos cinemas para uma semana especial em IMAX, enquanto Oppenheimer manteve sessões em 70mm até o final de agosto, retornando em novembro com exclusividade IMAX.
Christopher Nolan, diretor de Oppenheimer, é um defensor das exibições nos cinemas. Já Donna Langley, da Universal, declarou ao The Information:
“Com diretores como Nolan, as janelas de exibição são mais longas, mas, de modo geral, faz sentido serem mais curtas.”
Declínio das mídias físicas
A queda nas vendas de DVDs também alterou a dinâmica do mercado. Como Matt Damon explicou ao programa Hot Ones:
“Antes, você não precisava recuperar todo o investimento só com a bilheteria do cinema, pois o DVD funcionava quase como uma reestreia do filme seis meses depois.”
Sem essa fonte de renda, os estúdios passaram a depender mais do sucesso imediato nos cinemas. Caso um filme não arrecade pelo menos 50 milhões de dólares nas primeiras semanas, grandes redes de cinema têm permissão para retirá-lo de cartaz rapidamente.
Greves em Hollywood
Em 2023, a greve simultânea dos sindicatos WGA (roteiristas) e SAG-AFTRA (atores) pausou diversas produções e atrasou estreias importantes, como Duna: Parte Dois.
Além disso, a disputa por pagamentos justos em relação às exibições em streaming se tornou um ponto central.
Antes, lançamentos em DVD ou reprises na TV geravam pagamentos residuais para escritores e atores. No entanto, com o streaming, muitos profissionais ficaram sem essa garantia.
Desinteresse da Geração Z pelo Cinema
Outro fator é a mudança nos hábitos das novas gerações. Com o aumento do consumo de conteúdos curtos em plataformas como TikTok e YouTube, filmes longos têm menos apelo.
Como observou Daniel D’Addario na Variety: “Se as crianças não conseguem assistir a um filme de 90 minutos sem interrupções, o que mais estão deixando de vivenciar?”
Ainda assim, há exceções. Divertida Mente 2 teve um raro período de 100 dias em cartaz, arrecadando mais de 1 bilhão de dólares antes de chegar ao Disney+.
O sucesso das reexibições
Clássicos também têm atraído público aos cinemas. Festivais como o Ghibli Fest exibem filmes consagrados, como Meu Amigo Totoro e A Viagem de Chihiro.
Além disso, filmes cult como The Rocky Horror Picture Show e The Room continuam atraindo espectadores em sessões especiais.
A reexibição de Stop Making Sense, documentário do Talking Heads, arrecadou mais de 5 milhões de dólares em 2023, superando sua estreia original em 1984.
Lançamentos que nunca chegam aos cinemas
Outro problema é o número crescente de produções que sequer passam pelos cinemas. Glass Onion: Um Mistério Knives Out foi exibido por apenas uma semana antes de ser lançado na Netflix.
O CEO da Netflix, Ted Sarandos, comentou ao Deadline: “Nosso objetivo é gerar interesse para que nossos assinantes assistam na Netflix.”
A HBO também limitou as exibições de filmes como a versão de Zack Snyder de Liga da Justiça a sessões beneficentes em Nova York e Los Angeles.
O fenômeno Taylor Swift
Em 2023, Taylor Swift fechou um acordo diretamente com a AMC para exibir Taylor Swift: The Eras Tour sem passar por grandes distribuidoras.
O filme arrecadou mais de 250 milhões de dólares e foi lançado apenas nos finais de semana, garantindo sessões lotadas.
A estratégia despertou a atenção de grandes nomes da indústria, como Christopher Nolan. Além disso, Beyoncé seguiu a mesma fórmula com Renaissance: Um Filme de Beyoncé, que arrecadou 44 milhões de dólares sem lançamento em vídeo sob demanda.
Afinal, quanto tempo os filmes ficam em cartaz?
O tempo que um filme permanece nos cinemas depende de vários fatores, como bilheteria, demanda do público, concorrência e decisões dos estúdios. Como o Angelika Film Center explica:
“O período de exclusividade nos cinemas é estrategicamente planejado para maximizar a bilheteria e atrair o público para a tela grande.”
Se você gosta da experiência de assistir a um filme no cinema, não deixe para depois. Apoiar cinemas locais e acompanhar lançamentos pode ajudar a manter viva essa tradição. Afinal, o poder está nas mãos do público, e não apenas dos estúdios.