Bernardo e Bianca: por que Walt Disney mandou guardar o filme no cofre 15 anos antes do lançamento?

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Lançado em 1977, Bernardo e Bianca é lembrado como um marco dentro da chamada “Era Sombria” da Disney, período entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1980, quando o estúdio buscava novas direções após a morte de Walt Disney. Curiosamente, a produção poderia ter chegado muito antes aos cinemas, já que suas primeiras versões começaram a ser desenvolvidas em 1962. Mas por decisão do próprio Walt, o projeto ficou guardado nos cofres do estúdio por cerca de 15 anos.

O motivo era claro: o criador da Disney considerou que a primeira adaptação trazia conotações políticas arriscadas demais para a época, especialmente em meio à Guerra Fria.

A história de Bernardo e Bianca

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No filme, os protagonistas são dois ratinhos membros da Sociedade de Ajuda Internacional, Bernardo (Bob Newhart) e Srta. Bianca (Eva Gabor). A dupla é chamada para uma missão ousada: resgatar Penny (Michelle Stacy), uma menina órfã sequestrada pela vilã Madame Medusa (Geraldine Page).

Medusa planeja usar a garotinha para recuperar o Olho do Diabo, o maior diamante do mundo, escondido em um poço perigoso nos pântanos, repleto de crocodilos. Para dar conta da missão, Bernardo e Bianca contam com a ajuda de uma libélula, e Orville, um albatroz atrapalhado que garante momentos de humor ao longo da aventura.

O filme traz uma perseguição eletrizante, com os heróis enfrentando tiroteios, armadilhas e animais selvagens nos pântanos até conseguirem derrotar Medusa. No final, Penny é adotada e reconhecida por ter descoberto o diamante, enquanto a vilã e seu cúmplice, Sr. Snoops (Joe Flynn), acabam presos.

Apesar de ser um filme de aventura para toda a família, Bernardo e Bianca também ficou famoso por um episódio inesperado: em 1999, a Disney precisou recolher 3,4 milhões de fitas VHS para remover duas imagens que mostravam, em segundo plano, uma mulher sem roupas, obra proposital de um funcionário arteiro na época.

Primeiras versões rejeitadas

O filme é inspirado no livro The Rescuers, de Margery Sharp, publicado em 1952. A ideia de levá-lo às telas começou em 1962, quando o artista Otto Englander sugeriu uma adaptação. A primeira proposta colocava Bernardo e Bianca em Cuba, onde deveriam resgatar um poeta preso por se opor ao regime local.

Em plena Guerra Fria, Walt Disney avaliou que essa abordagem política era delicada demais e mandou arquivar o projeto.

Alguns anos depois, em 1968, uma nova tentativa surgiu. Dessa vez, a aventura levaria os personagens a uma viagem no tempo, para resgatar Ricardo Coração de Leão. O roteiro também não agradou e foi descartado.

Nos anos seguintes, outros profissionais tentaram revitalizar a produção. Até Don Bluth, que viria a se tornar um nome importante da animação nos anos 1980, chegou a trabalhar em uma proposta, mas nenhum desses projetos avançou.

Mudanças criativas e a criação de Madame Medusa

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Com a morte de Walt Disney em 1966, o estúdio passou a revisitar projetos engavetados, e Bernardo e Bianca ganhou nova vida. Várias ideias diferentes foram cogitadas para dar forma ao filme. Uma delas envolvia Louie O Urso, um personagem cantor de jazz que seria dublado por Louis Prima, o mesmo que havia interpretado o Rei Louie em Mogli: O Menino Lobo. A ideia foi abandonada antes da produção avançar.

Outro caminho explorado foi trazer Cruella de Vil, de 101 Dálmatas, como vilã. A personagem chegou a ser redesenhada para a nova trama, mas a equipe desistiu da ideia para não reutilizar uma antagonista tão associada a um filme clássico.

Foi então que o animador Milt Kahl criou Madame Medusa, que se tornaria a grande antagonista da história. Sua aparência exagerada e atitudes cruéis ajudaram a definir o tom mais ousado do filme em comparação com outras produções do estúdio na época.

O sucesso de bilheteria

Quando finalmente estreou em 1977, Bernardo e Bianca arrecadou cerca de 15 milhões de dólares nos Estados Unidos, valor que hoje ultrapassaria 80 milhões. O resultado foi essencial para financiar outros projetos do estúdio, como O Cão e a Raposa, lançado em 1981.

Na França, o desempenho foi ainda mais impressionante: o longa ultrapassou Star Wars e 007 – O Espião Que Me Amava e se tornou o filme mais lucrativo daquele ano no país.

Esse sucesso abriu espaço para um marco importante: Bernardo e Bianca se tornou o primeiro longa animado da Disney a ganhar uma continuação. Em 1990, chegou aos cinemas Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus, que levou os personagens para uma nova missão, desta vez ambientada na Austrália.

A importância do filme dentro da Disney

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Além de ter sido o primeiro longa da Disney a gerar uma sequência oficial, Bernardo e Bianca também representou uma mudança no tom das produções do estúdio. O filme foi considerado mais ousado e “sombrio” em comparação com clássicos como Bambi e Cinderela, refletindo o espírito de experimentação que marcou a empresa nos anos 1970.

Mesmo com as várias mudanças de roteiro, cortes e recomeços, o longa conseguiu encontrar seu espaço no catálogo da Disney. Sua história de aventura, mistério e resgate de uma criança rendeu uma das produções mais lembradas daquela fase de transição.

Hoje, tanto o original de 1977 quanto a sequência de 1990 podem ser assistidos no Disney+.

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