A primeira sequência de Indiana Jones, lançada em 1984, acabou sendo banida na Índia na época de seu lançamento. Hoje em dia, Steven Spielberg dirige filmes que fogem de controvérsias no que diz respeito ao seu enredo, fazendo questão de incluir representações responsáveis de outras culturas, como em sua adaptação de Amor, Sublime Amor (2021), por exemplo. No entanto, há quase 40 anos, esses cuidados não eram tão comuns para a indústria.
Indiana Jones e o Templo da Perdição chegou aos cinemas em 1984 e arrecadou mais de US$ 333 milhões em todo o mundo. Mas isso não aconteceu sem reações. A violência explícita, por exemplo, criou um alvoroço para um filme que foi lançado com uma classificação indicativa mais baixa e, por fim, levou à criação nos Estados Unidos da faixa PG-13, que alerta sobre material impróprio para espectadores menores de 13 anos.
No entanto, não foi isso que fez a produção ser banida em um dos países mais populosos do mundo. A Índia tinha uma queixa muito mais específica em relação ao filme de Harrison Ford: a representação de sua própria cultura.
Spielberg, que inicialmente queria filmar em um país do sul da Ásia, tinha um roteiro que não agradou um dos funcionários do governo. Por causa disso, o diretor teve que realizar boa parte da produção no país vizinho, o Sri Lanka.
A representação dos indianos em Templo da Perdição
Durante várias cenas do filme, os habitantes da vila de Mayapore, no norte da Índia, que o Dr. Jones e seus companheiros do Templo da Perdição visitam, são retratados saboreando uma série de iguarias. No entanto, esses momentos foram considerados de um nível tão grande de desrespeito que o público da Índia não conseguiu ignorar.
Desde comer cérebros de macaco e cobras até devorar besouros e sopa de globos oculares, a representação causou, compreensivelmente, indignação entre a comunidade.
Além disso, outra sequência que não caiu bem para os indianos foi a que mostrava o povo da aldeia adorando um espírito demoníaco, quase divino, Kali-Ma. Na cena em questão, os membros dessa seita conduzem uma cerimônia ritualística em que um sacrifício humano é oferecido e realizado, resultando em uma morte horrível e na extração de órgãos vitais.
Esse tipo de alteridade estranha irritou o governo indiano que, depois de ter proibido a gravação do filme no país, também baniu o produto final nos cinemas da Índia.
Indiana Jones e o Templo da Perdição pode ser encontrado no catálogo no Disney+. Indiana Jones e a Relíquia do Destino está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.
Interessante o governo ter proibido filmar no país. Mas, se eu fosse indiana, não ia gostar que banissem a exibição. Se alguém faz um filme falando mal do meu país, prefiro assistir pra saber o que estão falando do que ficar na ignorância enquanto todo o resto do mundo assiste.
Engraçado que quando você escreveu “se eu fosse indiana” ficou ambíguo, mesmo estando com letra minúscula, hehehe. Por um momento pensei que você estivesse falando sobre ser o personagem, que obviamente não fazia sentido com o contexto. Abraços.
A letra minúscula e a ausência de artigo já tiram a ambiguidade. Mas que bom que o contexto ajudou.
Ana, excelente artigo! Só atento para um detalhe factual: não foi na aldeia de camponeses pobres que se deram os horrores daquele jantar com cérebro de macaco, e sim no luxuoso Palácio de Pankot. Assim como os rituais sangrentos de adoração a Kali-Ma se dão, na verdade, no subsolo do mesmo Palácio de Pankot, não na aldeia, que, coitada, não tinha comida quase nenhuma para dar de cortesia aos aventureiros, tanto é que o líder da aldeia, o Shaman, pede ao Indiana que resgate as pedras sagradas que foram roubadas pelo sacerdote lá do Palácio. Abraços e tudo de bom!