A História Distorcida de Amanda Knox: Quem realmente matou Meredith Kercher?

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Produções do gênero true crime frequentemente são criticadas por darem mais atenção aos acusados do que às vítimas. Em A História Distorcida de Amanda Knox, disponível no Disney+, essa crítica reaparece. A série traz a história sob o ponto de vista de Amanda Knox, norte-americana que chegou a ser condenada pela morte da colega de quarto, Meredith Kercher, mas que acabou sendo inocentada anos depois.

Nos dois primeiros episódios, acompanhamos Amanda, interpretada por Grace Van Patten, nos primeiros dias em Perúgia, cidade universitária italiana. Ela estava lá para estudar, aproveitando uma oportunidade de intercâmbio. Era jovem, cheia de curiosidades sobre o mundo e começava um namoro com o italiano Raffaele Sollecito, interpretado na série por Giuseppe De Domenico.

Durante esse período, Amanda dividia um apartamento com outras estudantes, entre elas a britânica Meredith Kercher (Rhianne Barreto). Meredith tinha 21 anos e também estava na Itália para estudar.

Em 2 de novembro de 2007, a rotina do grupo foi quebrada por uma tragédia. Meredith foi encontrada morta no próprio quarto. Tinha sido atacada com violência: esfaqueada várias vezes, com sinais de agressão sexual e a garganta cortada.

Amanda contou que havia passado a noite anterior na casa de Sollecito. Ao voltar para o apartamento, percebeu que a porta estava aberta e notou manchas de sangue no banheiro.

Preocupada, ligou para a polícia com o namorado quando perceberam que algo estava errado e que a porta do quarto de Meredith não abria.

A pressão sobre Amanda Knox

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Amanda Knox nos dias atuais

A resposta das autoridades italianas foi rápida e controversa. Amanda logo virou alvo da investigação. Um dos motivos teria sido o comportamento dela, que não se encaixava nas expectativas tradicionais de como uma “amiga em luto” deveria agir. Sua forma de ser, espontânea, às vezes considerada ingênua, foi mal interpretada.

Sem entender bem a língua local e sem assistência adequada, Amanda passou por longos interrogatórios: mais de 50 horas em cinco dias. Sob pressão, ela fez uma confissão que depois disse ter sido forçada. Acabou acusando Sollecito e o próprio chefe, Patrick Lumumba, de envolvimento no crime.

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Amanda knox e Raffaele Sollecito em 2007

Apesar de retirar essa confissão pouco tempo depois, Amanda já estava no centro da atenção da mídia. A cobertura internacional foi intensa e contribuiu para criar uma imagem distorcida dela. Um exemplo disso foi o apelido “Foxy Knoxy”, que surgiu a partir de um antigo nome de usuário que ela usava em jogos de futebol na escola, mas que foi reinterpretado pelos tabloides como uma referência a alguém esperta e sedutora. Esse rótulo sensacionalista teve um peso grande na forma como o público passou a enxergá-la.

Mesmo sem provas diretas ligando Amanda ou Sollecito ao assassinato, ambos foram condenados: ela a 26 anos de prisão, ele a 25. Patrick Lumumba, que foi preso brevemente, acabou sendo libertado sem acusações, mas Amanda foi condenada por difamação por tê-lo citado falsamente.

Reviravoltas no julgamento e a absolvição

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Em 2011, um novo julgamento absolveu Amanda e Sollecito, com base na falta de provas físicas consistentes e na condução duvidosa da investigação inicial. No entanto, a absolvição foi anulada em 2013 por um tribunal superior, e ambos foram julgados novamente.

Somente em 2015 o caso chegou ao fim. A Corte Suprema da Itália os declarou inocentes em definitivo e destacou os erros no processo e na coleta de provas. Amanda deixou o país e passou a viver nos Estados Unidos, tentando reconstruir sua vida longe do rótulo que a mídia ajudou a criar.

Desde então, ela tem se dedicado a discutir temas como erros judiciais, abuso de autoridade em investigações e os efeitos que uma condenação injusta pode ter na vida de uma pessoa. Mesmo assim, seu nome segue sendo mais lembrado do que o de Meredith Kercher.

O verdadeiro autor do crime

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Rudy Guede em um tribunal de Perúgia, Itália, em setembro de 2008

Enquanto Amanda estava presa, surgiram novas provas no caso. Exames de DNA feitos no local do crime revelaram vestígios genéticos que não pertenciam a nenhum dos três acusados. Essas amostras pertenciam a Rudy Guede, um homem de 20 anos que já tinha antecedentes por roubo.

Durante o interrogatório, Guede admitiu ter estado com Meredith naquela noite. Disse que os dois tiveram relações consensuais, mas que ele saiu do cômodo ao ouvir gritos e voltou para encontrá-la ferida. Sua versão levantou suspeitas, mas ele negou envolvimento direto na morte.

Guede foi julgado e condenado em 2008. A decisão da Justiça italiana dizia que ele não agiu sozinho, o que alimentou a tese inicial de que Amanda e Sollecito também estariam envolvidos. No entanto, as provas físicas contra eles continuavam frágeis.

Inicialmente, Guede recebeu uma sentença de 30 anos. Depois, sua pena foi reduzida para 16. Em 2017, ele passou a cumprir parte da pena em liberdade condicional, saindo durante o dia para estudar sociologia. Em 2020, com apenas 13 anos cumpridos, foi libertado.

Mais recentemente, em junho de 2025, Guede voltou a ser acusado, dessa vez por violência e agressão sexual contra uma ex-namorada. O novo processo segue em andamento, e ele aguarda julgamento.

A ausência de Meredith Kercher na série

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Mesmo sendo a vítima, Meredith aparece pouco na série. Ela é mostrada apenas de forma superficial, com poucas cenas retratando sua rotina ou sua personalidade. Sabe-se que gostava de ler e tomar sol, mas não há muito além disso.

A explicação é que a produção foca no ponto de vista de Amanda, que também atua como produtora executiva da série. Mas essa escolha reacende o debate sobre o papel das vítimas em produções do tipo.

A família de Meredith criticou a série. Em um comunicado, o advogado da família disse: “mais uma vez, temos que assistir a uma tentativa de reorganizar os fatos, com o trailer afirmando que ‘Amanda luta incansavelmente para provar sua inocência e recuperar sua liberdade’. Mais uma vez, o foco está em Knox”.

Eles consideram A História Distorcida de Amanda Knox uma tentativa de lucrar com a tragédia, sem respeitar adequadamente a memória de Meredith. Segundo a família, o caso continua sendo contado de forma parcial, deixando de lado a história de quem realmente perdeu a vida.

Com seis episódios ainda por vir, a série pode trazer mais informações sobre Rudy Guede e, talvez, entrar um pouco mais na vida de Meredith. Por enquanto, a jovem britânica segue sendo coadjuvante em um caso em que deveria ser o centro da história.

A História Distorcida de Amanda Knox está lançando novos episódios toda quarta-feira no Disney+. A minissérie tem 8 capítulos no total.

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