
Lançado em 21 de junho, Elio chegou aos cinemas como a nova aposta da Pixar, mas parece que o que o público assistiu nas telonas foi bem diferente do projeto que começou a ser desenvolvido anos antes. A trajetória do filme passou por várias reviravoltas, com reescritas, substituição de diretores, ajustes no tom e uma série de decisões que acabaram distanciando o resultado final da visão original.
No centro dessa história está Adrian Molina, codiretor de Viva – A Vida é uma Festa, que começou a trabalhar em Elio com uma proposta mais pessoal. Segundo informações do The Hollywood Reporter, o projeto foi enfraquecido internamente por interferências da liderança do estúdio, falta de uma direção clara e receios após polêmicas recentes envolvendo representações LGBTQIA+ em outras produções da Disney e Pixar.
A versão que chegou ao público não só se afastou dessa proposta original, como também enfrentou uma das piores estreias de bilheteria da história da Pixar, arrecadando somente US$ 20 milhões nos Estados Unidos no primeiro fim de semana.
O que mudou no protagonista
Na ideia original, Elio apresentaria um menino de 11 anos com elementos visuais discretos sugerindo uma paixão por alguém do mesmo sexo. Esses detalhes apareciam, por exemplo, na decoração do quarto do personagem. Mas ao longo da produção, esses sinais foram sendo retirados.
“Foi bem claro, durante a produção da primeira versão, que [os líderes do estúdio] estavam constantemente removendo esses momentos que faziam alusão à sexualidade queer de Elio,” relatou ao THR um ex-artista da Pixar.
O estúdio teria solicitado mudanças para tornar o personagem mais “masculino”, resultado de uma tentativa de evitar novas controvérsias, especialmente após a recepção negativa a Lightyear em 2023 e à exclusão de uma história com personagem trans na série Ganhar ou Perder.
Testes, reações e troca de comando

Um teste de exibição feito com uma das primeiras versões do longa deixou os executivos ainda mais preocupados. Quando perguntaram ao público se pagariam para ver o filme no cinema, ninguém levantou a mão.
Pouco tempo depois, Molina deixou o projeto, após uma conversa difícil com Pete Docter, diretor criativo da Pixar. A direção foi então assumida por Madeline Sharafian (Toca) e Domee Shi (Red: Crescer é uma Fera). Mas, segundo relatos do THR, o resultado acabou sendo uma mistura desconexa: nem o filme que Molina queria fazer, nem uma versão coesa pensada do zero.
“O Elio que está nos cinemas é bem pior do que a melhor versão de Adrian,” afirmou um ex-funcionário da Pixar.
Um orçamento que explodiu
O orçamento também se tornou um problema. Embora a Disney tenha declarado oficialmente um custo de US$ 150 milhões, fontes ouvidas pelo The Hollywood Reporter afirmam que o valor final ultrapassou os US$ 200 milhões.
Como o filme já estava praticamente finalizado antes das alterações, o processo de refazer cenas e alterar a estrutura exigiu novos investimentos consideráveis.
Com tantos ajustes, Elio chegou aos cinemas cercado por incertezas. A baixa arrecadação na estreia nos Estados Unidos chamou atenção e levantou a pergunta: teria sido mais vantajoso manter a proposta original de Molina em vez de recomeçar o projeto com outra equipe? Dentro e fora do estúdio, essa discussão continua.