
A Warner Bros. Discovery (WBD) elevou o tom contra a Paramount e pediu formalmente que seus acionistas rejeitem a proposta de aquisição avaliada em US$ 108 bilhões. Em carta enviada aos investidores, a empresa afirma que a oferta rival traz riscos elevados e não oferece garantias financeiras suficientes, reforçando que o acordo já aceito com a Netflix segue sendo a alternativa mais segura.
O posicionamento marca mais um capítulo na disputa pelo controle dos ativos da WBD, que inclui marcas de peso como Warner Bros., HBO e CNN. Nos bastidores, a avaliação do conselho é de que a proposta da Paramount cria incertezas relevantes em um momento já sensível para o setor de mídia.
Principais críticas à proposta da Paramount
Em uma carta de três páginas, a Warner Bros. Discovery detalhou os pontos que considera problemáticos na oferta da Paramount. A maior preocupação envolve o suposto respaldo financeiro da família Ellison. Embora Larry Ellison, fundador da Oracle e um dos homens mais ricos do mundo, seja apontado como apoiador indireto do negócio, a WBD afirma que não existe um compromisso financeiro direto e incondicional da família.
Segundo o documento, a proposta prevê um aporte de US$ 40,65 bilhões em capital próprio, mas sem garantia clara por parte dos Ellison. A Warner afirma que a Paramount sugere que os acionistas confiem em um fundo revogável, descrito como pouco transparente, para assegurar o financiamento da operação.
Além disso, o conselho da WBD classificou a oferta como arriscada por permitir que a Paramount altere termos essenciais, inclusive o valor da proposta, ao longo do processo. Considerando que aprovações regulatórias globais podem levar de 12 a 18 meses, a empresa avalia que não há segurança real de fechamento do negócio.
Netflix segue como opção preferida
Antes da disputa ganhar força, a Warner Bros. Discovery já havia decidido se dividir em duas empresas, uma focada em estúdios e streaming e outra concentrada em canais lineares, cuja relevância vem caindo. A separação está prevista para ocorrer até o terceiro trimestre de 2026.
Dentro desse plano, a Netflix apresentou uma proposta de US$ 82,7 bilhões, considerada pelo conselho como mais sólida e previsível. Pelo desenho atual, a divisão Discovery Global Networks seria desmembrada, enquanto a Netflix ficaria com Warner Bros., HBO e os negócios de streaming.
Em comunicado, o presidente do conselho da WBD, Samuel A. Di Piazza Jr., afirmou que, após uma análise cuidadosa, a oferta da Paramount foi considerada inadequada, com custos e riscos significativos para os acionistas. Ele reforçou que a combinação com a Netflix oferece valor superior e maior previsibilidade.
Bastidores revelam outros interessados
Documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) revelaram ainda que, além de Netflix, Paramount e Comcast, outras empresas demonstraram interesse nos ativos da WBD. Entre elas, uma holding privada global e uma empresa americana de mídia, que chegou a sondar a compra da Discovery Global Networks e 20% do braço de estúdios e streaming por US$ 25 bilhões em dinheiro.
A Comcast, que chegou a ser apontada como possível concorrente, deixou a disputa após a aceitação da proposta da Netflix. Rumores envolvendo a Amazon circularam nos últimos meses, mas sem avanço concreto.
Disputa deve continuar
A Paramount recebeu oficialmente a rejeição da Warner Bros. Discovery a uma de suas seis propostas anteriores, mas o mercado espera novos movimentos. Há expectativa de que a empresa eleve sua oferta, assim como a Netflix também pode rever valores.
Independentemente do desfecho, a negociação já se desenha como uma das maiores fusões da história do entretenimento. Em um setor que enfrenta demissões em massa, cortes de custos e mudanças estruturais aceleradas, o futuro dos ativos da Warner segue cercado de incertezas, após passarem por quatro controladores diferentes em pouco mais de uma década.