
O uso de inteligência artificial em Hollywood virou um dos assuntos mais polêmicos dos últimos tempos. Alguns defendem a tecnologia, outros acham que ela ameaça o trabalho criativo e há quem acredite que ela é inevitável.
Dessa vez, o debate ganhou força depois que Kevin O’Leary, investidor do programa Shark Tank e ator estreante no filme da A24 Marty Supreme, disse que os estúdios poderiam economizar milhões substituindo figurantes humanos por personagens gerados por IA.
O’Leary comentou ao site World of Travel: “Quase toda cena tinha 150 figurantes. Essas pessoas precisam ficar acordadas por até 18 horas, vestidas, andando no fundo das cenas, e isso custa milhões de dólares.”
Ele ainda citou a “atriz” digital Tilly Norwell (na verdade, Tilly Norwood): “Ela é 100% IA. Não existe, mas é uma ótima atriz. Pode parecer de qualquer idade, não precisa comer e trabalha 24 horas por dia. O sindicato dos atores está enlouquecendo. Acho que, em alguns casos, deveríamos permitir isso. Figurantes são um ótimo exemplo. Você pode colocar 100 Tilly Norwells ali e pronto.”
Simu Liu rebate a ideia de Kevin O’Leary

A declaração não pegou bem entre os profissionais da indústria, e um dos primeiros a reagir foi Simu Liu, o astro de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis. O ator criticou a proposta nas redes sociais e depois explicou melhor seu ponto de vista em entrevista ao Deadline.
“Achei essa opinião muito sem noção, totalmente fora da realidade e ainda por cima errada,” disse Liu. “Achar que os figurantes, que ganham salário mínimo, são os responsáveis pelo alto custo das produções é simplesmente falso. Essa ideia de substituir atores por IA é o oposto de tudo o que me fez crescer como artista.”
O ator ainda destacou a importância dos figurantes como parte do aprendizado de quem trabalha com atuação: “Se eu aprendi muito trabalhando como figurante, imagina quantas outras pessoas fazem o mesmo. Tirar isso do mundo é tirar a chance de muita gente desenvolver essas habilidades.”
“A arte é arte porque é humana”
Durante a conversa, Simu Liu também falou sobre o que acredita ser o verdadeiro valor da arte. “O cinema é um meio feito por artistas. De todas as aplicações de IA que surgiram, usar para substituir arte é o último caminho que deveríamos seguir. A arte é arte porque é humana.”
Ele comentou que até o jeito como figurantes se movem em cena faz diferença na história: “Tudo o que aparece no quadro importa. Acho que os seres humanos ainda conseguem perceber quando algo não parece natural. Quando vemos alguém no fundo que não se mexe como uma pessoa de verdade, a gente sabe. Ainda dá pra notar a diferença, pelo menos por enquanto.”
Alguns estúdios já começaram a usar IA em campanhas de marketing e em processos de pré-produção, mas a ideia de substituir pessoas por modelos digitais ainda é motivo de muita discussão. Segundo Liu, o problema vai além da tecnologia, e envolve o valor do trabalho humano no cinema.
Enquanto o tema continua quente, o ator segue envolvido em novos projetos da Marvel. Ele deve voltar como Shang-Chi nos próximos filmes dos Vingadores. Sobre a continuação do seu filme solo, o ator comentou recentemente: “Grande parte disso não depende de mim, mas está acontecendo. Estou animado para trabalhar nisso.”