
No episódio O Time do Homer, da 7ª temporada de Os Simpsons, Homer decide montar um time de boliche com Moe, Apu e Otto. Eles se inscrevem no campeonato local e, apesar das trapalhadas, chegam à final.
Tudo começa quando Homer, frustrado por não conseguir uma pista no boliche numa noite cheia, tem a ideia de criar os Pin Pals.
Sem grana para pagar a taxa de inscrição, ele pede ajuda ao Sr. Burns, que está sob efeito de éter e confunde Homer com o Poppin Fresh, o bonequinho da Pillsbury. Rindo, ele entrega os US$ 500 sem pensar duas vezes. Mais tarde, ao perceber o que fez, Burns decide entrar para o time, tirando Otto da formação.
Mesmo com Burns atrapalhando, os Pin Pals vão longe no campeonato e enfrentam os Holy Rollers de Ned Flanders na final. Com sorte e uma briga aleatória envolvendo uma garra mecânica, os Pin Pals vencem.
Mas quem fica com o troféu é Burns, porque, como Homer diz, “tem gente que nunca muda. Ou muda rápido e depois volta ao normal.”
O Oscar no armário de troféus que precisou ser editado

Em meio às piadas visuais típicas da série, uma em particular chamou atenção. Quando Homer reclama com Marge que não vão mais ganhar o campeonato, diz que se arrepende de ter feito um armário de troféus.
A cena corta para uma estante de madeira mal feita, com apenas um único prêmio: um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante com o nome de Homer escrito em cima do original, que foi riscado.
Esse nome original? Haing S. Ngor, vencedor do Oscar em 1985 por Os Gritos do Silêncio (The Killing Fields).

Ngor não era ator profissional. Médico e ginecologista, sobreviveu aos horrores do regime do Khmer Vermelho no Camboja, fugiu para a Tailândia e, depois, para os Estados Unidos.
Lá, foi escolhido para interpretar Dith Pran, um personagem que, assim como ele, escapava da repressão no Camboja. Sua atuação rendeu um Oscar e o reconhecimento como o primeiro asiático a vencer na categoria.
A morte de Haing S. Ngor e a reação dos produtores
Pouco mais de um mês depois da exibição de O Time do Homer, Haing S. Ngor foi assassinado na porta de casa, em Los Angeles. Oficialmente, o crime foi considerado um assalto que deu errado, cometido por membros de uma gangue local.

Mas o fato de Ngor não ter tido seu carro ou dinheiro roubados alimentou uma teoria mais sombria: ele teria sido morto por falar publicamente contra o Khmer Vermelho. Essa hipótese foi mencionada até em um tribunal da ONU anos depois.
Diante da proximidade entre a exibição do episódio e a morte do ator, os criadores decidiram alterar a piada. A intenção era evitar qualquer interpretação de que Homer teria matado Ngor para roubar a estatueta.
No lugar, o nome foi substituído por Don Ameche, vencedor do Oscar em 1986 por Cocoon, uma escolha que também gerou controvérsia na época.
A decisão de editar a cena foi vista como uma forma de respeitar a memória de Ngor e evitar uma associação infeliz em um episódio que, no geral, segue uma linha bem mais leve.
Um detalhe pequeno, mas com peso
A referência original passou despercebida por muitos, mas a troca reforça como detalhes aparentemente pequenos podem ganhar novos sentidos diante de acontecimentos do mundo real.
E, no universo de Os Simpsons, onde piadas rápidas e visuais são comuns, às vezes uma revisão acaba sendo necessária para não parecer algo que nunca foi a intenção.
Hoje, o episódio segue no ar com o Oscar fictício de Don Ameche, enquanto Homer continua a preencher sua estante, quando não troca os prêmios por champanhe no serviço de quarto, é claro.