
Cinderela é uma das princesas mais conhecidas da Disney. A história é bem mais antiga que o estúdio: ela vem de um conto francês do século XVII escrito por Charles Perrault e já teve inúmeras versões no cinema, na TV e nos palcos.
Num momento em que os remakes em live-action viraram uma constante, muitos diretores têm enfrentado dificuldades para equilibrar fidelidade ao material original e novas propostas.
Mas, em meio a tantos projetos que dividem opiniões, como Branca de Neve (2025), o filme Cinderela de 2015, dirigido por Kenneth Branagh, ainda se destaca como uma das poucas unanimidades da Disney nesse formato.
Cinderela acerta ao respeitar o original e aprofundar a história

Desde a versão da dupla Rodgers & Hammerstein, de 1997, até títulos como Uma Garota Encantada, de 2004, a história da jovem que sofre nas mãos da madrasta foi reimaginada de diferentes formas. A animação de 1950, no entanto, é a que mais marcou gerações e se tornou um símbolo da chamada Era de Prata da Disney.
No remake de 2015, Branagh optou por seguir de forma mais fiel o clássico, mas deu profundidade a personagens e relações. Segundo o The New York Times, o primeiro rascunho do roteiro, escrito por Aline Brosh McKenna, levava a história para um rumo mais aventureiro, com Cinderela e o Príncipe se separando e ela indo atrás dele em uma jornada. A Disney preferiu manter a estrutura conhecida e chamou Chris Weitz para reescrever.
A base segue a mesma: uma jovem gentil e corajosa tem a vida transformada após um toque de magia. Mas, dessa vez, ela não é apenas sonhadora. A versão de Lily James mostra uma Cinderela decidida a manter sua bondade mesmo diante das injustiças. A frase “tenha coragem e seja gentil” vira o lema da personagem e dá o tom do filme.
O Príncipe, interpretado por Richard Madden, também ganha personalidade. Ele conhece Cinderela antes do baile, o que ajuda a construir uma relação mais natural entre os dois.
Já a madrasta, vivida por Cate Blanchett, é apresentada como alguém marcada por frustrações, o que não justifica suas atitudes, mas ajuda a entender suas motivações. E a escolha de Cinderela em perdoá-la dá outro peso ao final.
Visualmente, o filme entrega magia sem exageros

Mesmo sem números musicais, Cinderela não perde o encantamento. A direção de arte, os figurinos e a fotografia transformam o longa em uma espécie de conto de fadas visual. Branagh, acostumado com produções históricas e obras de Shakespeare, imprime um estilo elegante e refinado.
O palácio, o salão de baile, os figurinos criados por Sandy Powell — tudo ajuda a recriar a atmosfera mágica do desenho. O vestido azul iluminado, por exemplo, remete diretamente à versão animada. E a transformação feita pela Fada Madrinha (Helena Bonham Carter) impressiona não só pelo efeito visual, mas pela emoção que carrega.
Enquanto outros remakes da Disney tentaram reinventar suas histórias a qualquer custo, Cinderela fez o oposto: manteve o essencial e aprofundou o que já funcionava. Talvez por isso ainda seja o exemplo mais bem resolvido entre os live-actions do estúdio.
Cinderela está no catálogo do Disney+.
Tão irônico ver uma matéria sobre o quão fiel Cinderela foi ao mesmo tempo que a Disney está tomando na cabeça com o Branca de neve por querer impor mudanças não desejadas.