Clube dos Vândalos, um filme de Jeff Nichols, revitaliza os temas clássicos de desafio ao sistema vistos em obras como Sem Destino e Juventude Transviada. Situado nos anos 60, o filme segue um grupo insurgente de motociclistas. Embora seja um produto da criatividade de Nichols, o enredo possui inspirações em eventos reais do período.
Jeff Nichols nutria a ideia deste filme há bastante tempo. Michael Shannon, que frequentemente trabalha com Nichols, disse que o diretor mencionou a ideia num bar em Memphis durante a produção de um curta-metragem.
O projeto começou a tomar forma a partir de esboços iniciais elaborados por Nichols. O título original em inglÊs (The Bikeriders) foi emprestado de um livro de fotografias de 1967 de Danny Lyons, que registrava o cotidiano do gangue de motociclistas Outlaws MC. Apesar de sua influência, o livro não tem conexões diretas com o enredo do filme, que é considerado uma criação original pelo Writers Guild of America, associação que representa os roteiristas nos Estados Unidos.
Reflexos da realidade
O filme explora a formação do Vandals MC, um clube de motoqueiros oriundo dos subúrbios de Chicago. Austin Butler dá vida a Benny, que ascende como membro importante do clube e ajuda seu amigo Johnny (Tom Hardy) a tornar-se o líder.
No entanto, divergências surgem à medida que os dois seguem rumos diferentes. Enquanto Benny se envolve com Kathy (Jodie Comer), Johnny leva o clube a se associar com o crime organizado, colocando Benny numa encruzilhada sobre suas lealdades.
Um elemento central do filme é uma entrevista feita por uma versão fictícia de Lyon, interpretada por Mike Faist. Apesar de os personagens serem fictícios, os segmentos de entrevista são inspirados nas reais interações de Lyon com a gangue. Nichols, ao integrar essas entrevistas ao roteiro, tentou mesclar imagens e palavras para evocar nostalgia, embora tenha admitido a complexidade do processo.
O Outlaw MC
Nichols apresenta uma versão romântica dos Vandals, mas a história verdadeira do Outlaw MC é bem mais obscura do que a retratada em Clube dos Vândalos. O clube foi estabelecido em 1935 em McCook, Illinois, e é um dos mais antigos do país.
John Davis foi o líder fundador até a Segunda Guerra Mundial, que dispersou temporariamente o clube. Eles ganharam notoriedade logo após a guerra, com um encontro notável no Soldier Field em 1946. A década de 1950 viu o clube se expandir e se fundir com outros grupos, como o Cult biker club de Voorheesville, New York, os Gypsy Outlaws de Milwaukee, Wisconsin, e os Gypsy Raiders de Louisville, Kentucky.
A década de 1970 marcou uma virada sombria quando membros mais agressivos tomaram controle, empurrando o clube para atividades criminosas. Davis foi deposto e assassinado por resistir a essas mudanças. A rivalidade com os Hells Angels de Fort Lauderdale, Florida, intensificou-se após uma declaração de guerra em 1975, resultando em múltiplas vítimas. Atualmente, o Outlaw MC é classificado como uma organização criminosa pelo Departamento de Justiça dos EUA.
Nichols não focou na precisão histórica, mas o filme reflete sobre as mudanças culturais nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Jovens americanos, buscando companheirismo semelhante ao encontrada no serviço militar, criaram grupos baseados em interesses comuns.
Clube dos Vândalos captura o espírito do movimento anti-establishment que ganhou força nos anos 1960. A crescente desilusão com o governo, exacerbada por controvérsias políticas e a guerra do Vietnã, é um tema central, apesar de os Vandals inicialmente apenas buscarem comunhão com indivíduos de ideais similares.
Clube dos Vândalos está em exibição nos cinemas.