
Durante anos, os super-heróis dominaram os cinemas. Estúdios disputavam direitos de adaptação, personagens viravam franquias e o público parecia insaciável. Hoje, o cenário é bem diferente. O desgaste é visível, as bilheteiras já não respondem como antes e a sensação de repetição afasta parte da audiência.
Enquanto isso, muita gente ignora que algumas das propostas mais interessantes do gênero não estão nos cinemas, mas na televisão.
Fora do eixo Marvel e DC, uma produção sul-coreana vem provando que ainda há muito espaço para contar boas histórias com pessoas extraordinárias.
Essa série está no Disney+ e se chama Em Movimento e, apesar do sucesso crítico e do boca a boca positivo, ainda passa despercebida por parte dos fãs de super-heróis. Um erro considerável.
Baseada nos quadrinhos de Kang Full, a produção mistura ficção científica, drama familiar e ação, acompanhando duas gerações de pessoas com habilidades especiais. O resultado é um relato envolvente, que cresce episódio após episódio sem recorrer a fórmulas cansadas.
Uma história de poderes, família e amadurecimento

Em Movimento começa focando em três estudantes do ensino médio: Bong-seok, Hui-soo e Gang-hoon. Aos poucos, eles descobrem que possuem habilidades fora do comum e tentam aprender a lidar com isso enquanto enfrentam dilemas típicos da adolescência.
O diferencial aparece quando a série revela que os pais desses jovens também têm poderes e, no passado, atuaram como agentes secretos do governo sul-coreano. A narrativa, então, se expande e passa a alternar entre o presente e missões antigas, conectando escolhas do passado com consequências bem atuais.
Hui-soo e seu pai, por exemplo, compartilham um fator de cura que os torna praticamente indestrutíveis. Já Bong-seok enfrenta o oposto: ele consegue voar, mas não controla a própria habilidade e precisa usar pesos para se manter no chão. Em um dos momentos mais simbólicos da série, ele decide abandonar esse “freio”, assumindo o próprio poder e a própria identidade.
Essas situações funcionam porque a série entende os poderes como extensões de conflitos humanos bem reconhecíveis, como medo, amadurecimento e autonomia.
Uma estrutura que foge do padrão

Outro ponto que diferencia Em Movimento de outras séries do gênero está na forma como a história é organizada. A primeira parte lembra um drama adolescente com elementos de super-heróis. Depois, o foco muda completamente para os adultos, revelando um passado marcado por operações secretas e decisões difíceis.
No arco final, pais e filhos unem forças em um confronto que acontece dentro da própria escola, local que se revela parte de um projeto maior de observação de pessoas com habilidades especiais. A série consegue amarrar passado e presente sem parecer confusa ou inflada, algo raro em produções longas de streaming.
Em vez de esticar tramas sem necessidade, Em Movimento aposta em episódios que realmente acrescentam algo à história, mantendo o interesse do começo ao fim.
Segunda temporada e novos caminhos

Mesmo sem grande alarde inicial fora da Coreia do Sul, Em Movimento se tornou um dos dramas mais assistidos do Disney+ e recebeu avaliações extremamente positivas da crítica. O sucesso garantiu a renovação para uma segunda temporada, já confirmada.
A continuação abre espaço para adaptar outras obras de Kang Full ambientadas no mesmo universo. Entre elas está Bridge, que acompanha os protagonistas já adultos, e Timing, focada em jovens capazes de manipular o tempo.
Em entrevista à CNN, Ryu Seung-ryong destacou que o elo familiar é um dos principais motivos da conexão do público com a série. “É uma história que reúne felicidade, raiva, dor e tristeza de uma forma contínua. Mesmo quem não tem filhos ou já perdeu os pais consegue se reconhecer nesses momentos”, afirmou o ator.
Em Movimento merece ser citada ao lado de produções como Invencível e Supacell quando o assunto é super-herói na televisão. Ao apostar em relações humanas e em uma construção paciente, a série mostra que o gênero ainda pode surpreender.
A produção está disponível no Disney+.