
Os microdramas, séries curtas com episódios rápidos e envolventes, deixaram de ser um experimento para se tornarem um dos formatos mais rentáveis do entretenimento mundial. Segundo um relatório da Media Partners Asia, o setor já movimenta bilhões de dólares e tem previsão de crescimento acelerado nos próximos anos.
A força dos microdramas está, sobretudo, na China. A receita saltou de US$ 500 milhões em 2021 para US$ 7 bilhões em 2024, com projeções de chegar a US$ 16,2 bilhões até 2030, o que representa uma taxa de crescimento anual de 11,5%.
Um marco deve ocorrer já em 2025, quando a receita dos microdramas no país deve ultrapassar a bilheteria do cinema local, alcançando US$ 9,4 bilhões.
“Os microdramas evoluíram de um nicho experimental para uma categoria global de múltiplos bilhões de dólares. A produção é barata, mas a distribuição é cara, e o sucesso depende de velocidade, escala e IPs replicáveis”, afirmou Vivek Couto, diretor executivo da MPA.
Hoje, mais de 830 milhões de pessoas consomem esse tipo de conteúdo na China, e quase 60% delas pagam por episódios ou fazem transações relacionadas.
O mercado é dominado por três grandes plataformas: o Red Fruit, da ByteDance, o WeChat Video Accounts, da Tencent, e o Xi Fan, da Kuaishou. Essas empresas criaram aplicativos próprios, integrados a redes sociais e sistemas de pagamento, explorando propriedades intelectuais de fontes como COL, China Literature e Tomato Novel.
O setor também vem investindo em produções chamadas de “classe S”, com orçamentos entre US$ 400 mil e US$ 600 mil, trazendo valores de produção cinematográficos e elencos profissionais.
Expansão pro mundo
Fora da China, os microdramas movimentaram US$ 1,4 bilhão em 2024 e devem atingir US$ 9,5 bilhões até 2030, crescendo a uma taxa anual de 28,4%. Os Estados Unidos lideram esse mercado, com US$ 819 milhões em 2024 e projeção de chegar a US$ 3,8 bilhões no fim da década.
Nos EUA, o público predominante são mulheres entre 30 e 60 anos, de áreas urbanas e com alto poder aquisitivo, interessadas principalmente em histórias de romance, vingança e tramas envolvendo CEOs.
Entre as plataformas em destaque estão a DramaBox, que faturou US$ 323 milhões em 2024 com lucro líquido de US$ 10 milhões, e a ReelShort, que alcançou cerca de US$ 400 milhões, mas segue no vermelho devido aos altos custos com marketing.
O Japão desponta como o maior mercado da Ásia-Pacífico fora da China, com previsão de ultrapassar US$ 1,2 bilhão em 2030, impulsionado pela integração com o LINE Pay e pelo aumento da produção local.
Sudeste Asiático e América Latina também aparecem como regiões com grande potencial de crescimento, enquanto a Índia ainda está em fase de testes.
O papel da inteligência artificial
A inteligência artificial já faz parte da cadeia de produção dos microdramas, especialmente na China.
Ela é usada para personalizar recomendações, acelerar testes de gêneros, desenvolver enredos ramificados e até criar conteúdos em ritmo mais rápido.
Mundialmente, a principal aplicação da IA tem sido na localização e dublagem, mas especialistas acreditam que, nos próximos anos, ela terá papel ainda maior na redução de custos e em novas formas de experimentação criativa.
Fontes de receita e modelos de negócio
Na China, a expectativa é que, até 2030, a publicidade responda por 56% das receitas, enquanto assinaturas representem 39% e o comércio 5%.
Fora do país, o modelo deve seguir mais voltado para assinaturas e compras dentro de aplicativos, que somarão 74%, enquanto a publicidade chegará a 25% e o comércio a 1%.
“O ecossistema da China mostra o que é possível quando o conteúdo é integrado a redes sociais e sistemas de pagamento, enquanto os Estados Unidos demonstram a viabilidade da expansão global”, explicou Couto. “Os vencedores serão aqueles que controlarem sua infraestrutura de distribuição e monetização, administrarem os custos de aquisição de usuários e construírem um fluxo sustentável de propriedades intelectuais.”
Exemplos brasileiros de microdramas
O Brasil já está entrando nesse formato “micro”, especialmente com micronovelas verticais para celular. Alguns projetos são:
- A Vida Secreta do Meu Marido Bilionário — primeira produção brasileira feita para a plataforma ReelShort. São 68 episódios de até dois minutos, gravados no formato vertical. O enredo gira em torno de um casamento arranjado, segredos de família e romance.
- De Volta ao Jogo — também da ReelShort, essa história voltou a ficar em destaque depois do sucesso da produção anterior.
Outras mininovelas verticais no ReelShort do Brasil que atraem audiência:
- Não sintam minha falta quando eu me for
- A máscara do bilionário
- A virgem e o bilionário
- Saudades Depois do Adeus
- Babá ex-presidiária e pai solteiro bilionário
- Saia da frente! Eu sou o chefe final!
- O médico chefe é o papai do meu bebê
Esses exemplos mostram como microdramas adaptados ao público móvel e com episódios rapidinhos já têm espaço aqui no Brasil e atraem visualizações expressivas.