
Enquanto muita gente aguarda Alien: Earth, novo trabalho de Noah Hawley para o FX, vale lembrar que não é a primeira vez que o criador de Fargo mergulha em um universo famoso na TV. Entre uma temporada e outra, Hawley levou a Marvel para caminhos pouco comuns com Legion, série que explora os limites do mundo mutante sem depender de conexões diretas com o MCU.
A proposta aqui é revisitar o ponto de partida, entender os poderes e conflitos de David Haller e mostrar como a estética de Legion abriu espaço para ideias que fogem do padrão das adaptações de quadrinhos na TV.
Sobre o que é Legion

Legion acompanha David Haller (Dan Stevens), um jovem em tratamento para transtorno dissociativo de identidade, semelhante ao Cavaleiro da Lua, que passa por instituições de forma quase cíclica. Ele também é filho do Professor Charles Xavier, informação que pesa bastante quando seus poderes começam a vir à tona.
A história acelera quando David conhece Syd Barrett (Rachel Keller), paciente por quem ele se apaixona. Aos poucos, Syd revela que trabalha infiltrada para o refúgio mutante Summerland, liderado pela Dra. Melanie Bird (Jean Smart).
O grupo ajuda David a sair do controle institucional e explica que aquelas instalações eram prisões mantidas pela Division 3, força estatal criada para lidar com ameaças mutantes.
Para quem não está familiarizado com o personagem, criado por Chris Claremont e Bill Sienkiewicz, vale reforçar que ele está entre os mutantes mais poderosos. Em Legion, as habilidades ficam embaralhadas com o diagnóstico clínico, já que cada personalidade controla um poder diferente.
Ao longo da série, aparecem telepatia, levitação, telecinese, teletransporte, manipulação do tempo e alterações da realidade, entre outras habilidades. A libertação por Summerland leva à tentativa de recrutamento na guerra contra a Division 3, mas a dimensão dos poderes de David muda a rota. Compreender e controlar tudo isso vira a prioridade, e o caminho passa a ser outro.
Para complicar, uma entidade parasitária atua no plano psíquico e tenta explorar a mente de David para fins próprios. Não é apenas uma história de treinamento, é também uma disputa interna, com influências que nem sempre são visíveis para quem está de fora.
Estilo, poderes e elenco

Mesmo baseada em mutantes, Legion não se comporta como um projeto tradicional dos X-Men. A série brinca com percepção, memória e ponto de vista. O uso do transtorno dissociativo como lente narrativa mantém o público em dúvida sobre o que é realidade e o que nasce da imaginação de David. Em alguns momentos, não existe resposta única, o que combina com o cenário de poderes em expansão.
Noah Hawley investe em imagens surreais e em direção de arte que conversam com essa instabilidade. Em vez de apostar apenas em grandes confrontos, a série frequentemente escolhe situações que distorcem espaço e tempo, deixando a ação para momentos em que ela realmente importa. Quando chega, a coreografia e o visual chamam atenção justamente por contrastarem com o que veio antes.
O elenco ajuda a sustentar essas viradas. Dan Stevens, antes de migrar para projetos de cinema como Godzilla e Kong: O Novo Império, Abigail e Cuckoo, dá contornos a um protagonista em busca de propósito, com poder demais nas mãos e limites que mudam a cada episódio.
Outro destaque é Aubrey Plaza, que transita por diferentes registros em Legion e, em certo ponto, assume um papel que encarna lembranças do próprio David.
O percurso dela começa com Lenny, amiga do protagonista que tem um fim brutal no piloto e volta como manifestação associada ao antagonista principal.
O Professor X de Legion

Hawley usa Legion para testar o que um projeto Marvel pode ser, ressaltando ficção científica e personagem acima de conexões. A série não está ligada ao MCU. Não espere referências diretas, caças a easter eggs ou participações especiais pensadas para cruzamentos de universos.
A terceira temporada apresenta uma versão própria do Professor X, vivida por Harry Lloyd, bem diferente das interpretações de James McAvoy e Patrick Stewart. Essa escolha reforça a liberdade criativa de Legion, que parte de material conhecido e entrega algo que se sustenta sem muletas externas.
A série também aceita o lado mais estranho dessas histórias. Por isso, muita gente pode até esquecer que está vendo um título da Marvel até que certas pistas liguem os pontos. Em três temporadas, Legion se mantém acessível para quem quer um recorte fechado, sem a necessidade de acompanhar dezenas de produções ao redor.
O resultado visual continua particular, com influências que lembram o surrealismo em diversas passagens. Em vez de replicar fórmulas, Legion constrói um mundo com regras próprias e deixa que a jornada de David seja guiada por perguntas sobre identidade, controle e uso do poder.
As três temporadas de Legion estão disponíveis no Disney+.