
Desde a pandemia e as greves de roteiristas e atores em 2023, a indústria de cinemas vem tentando se reerguer. Mesmo com sucessos como Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, Top Gun: Maverick e o fenômeno “Barbenheimer” (Barbie e Oppenheimer), os resultados continuam irregulares. A expectativa para 2025 era de um recomeço mais sólido, mas os números iniciais não são animadores. A arrecadação do ano está 5% abaixo de 2024 e quase 38% abaixo de 2019, segundo dados da Comscore.
A esperança agora se volta para os lançamentos de peso em meados de 2025 e do fim do ano. Títulos como Superman, Missão: Impossível – O Acerto Final, Jurassic World: Recomeço, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, Zootopia 2, Wicked: Tudo Mudou e Avatar: Fogo e Cinza devem movimentar o público nas próximas temporadas.
Em meio a esse cenário, a Variety conversou com donos e executivos de diversas redes de cinema para entender como eles estão lidando com esse momento de incerteza — e o que estão fazendo para atrair mais gente de volta às salas.
Regal aposta em experiência e eficiência
A Regal passou por um processo de recuperação judicial em 2022, fechou cerca de 100 unidades nos EUA e agora foca em oferecer uma experiência melhor para os clientes.
“Precisávamos parar de pagar aluguéis absurdos. Hoje temos condições melhores e conseguimos investir em poltronas reclináveis e novas tecnologias”, explica Eduardo Acuna, CEO da rede.
Para ele, manter o equilíbrio entre custo e qualidade é uma tarefa constante. “Você pode ter o melhor cachorro-quente do mundo, mas ele vai custar caro. Ou pode vender um barato que ninguém quer comer. Prefiro vender dois bons com margem menor”, diz.
A empresa também busca melhorar a percepção de valor do cinema, defendendo que os filmes fiquem em cartaz por pelo menos 45 a 60 dias. “Quanto mais tempo nos cinemas, maior o valor percebido”, comenta.
Cinema de arte enfrenta outro cenário
Christopher Escobar, dono dos cinemas Plaza e Tara em Atlanta, foca em produções independentes e clássicos. Em 2024, o destaque inesperado foi Thelma, que atraiu principalmente o público mais velho.
“Faltam filmes com bom humor e conteúdo para esse público. Thelma conseguiu equilibrar essas duas coisas”, diz. Para driblar a escassez de estreias relevantes, Escobar aposta em sessões com filmes cult como 2001: Uma Odisseia no Espaço e O Iluminado.
Crítico das poltronas reclináveis, ele aponta que o custo alto e a baixa durabilidade não compensam. “A economia não faz sentido. As pessoas vão a eventos esportivos e pagam mais de US$ 100 para sentar em cadeiras de plástico. Criamos esta exceção onde, para o ingresso de US$ 12 a US$ 15 de alguém, eles devem sentar em uma cadeira de US$ 600. Você está lá para tirar um cochilo ou sentar e prestar atenção na coisa na sua frente? ”, provoca.
Cinépolis investe em variedade e alimentação
Alejandro Ramírez Magaña, CEO da Cinépolis, vê 2025 com otimismo, principalmente por conta da quantidade de grandes lançamentos durante o verão americano. Mas ele também sente falta de opções no começo do ano.
“Fevereiro costuma funcionar bem com comédias românticas, mas esse ano passou em branco”, diz.
Para manter o público durante os períodos mais fracos, a rede criou o programa “Handpicked”, com exibições de clássicos a preços acessíveis. A qualidade da comida também é prioridade: “A pizza tem massa e molho feitos na hora. O cliente quer frescor, não algo frito direto do freezer”.
ACX Cinemas aposta em entretenimento além da tela
Com sete unidades no meio-oeste dos EUA, a ACX Cinemas transformou seus espaços em centros de entretenimento completos. Restaurantes, arcades e bares esportivos ajudam a atrair clientes mesmo quando os lançamentos são escassos.
“A gente se adaptou. Hoje, não dependo tanto da quantidade de filmes, mas sim daqueles que realmente vão atrair o nosso público”, explica Mike Barstow, vice-presidente executivo da rede.
Ele também defende a diversidade de lançamentos no verão, sem medo de concorrência direta. “As pessoas querem ter opções. Barbie e Oppenheimer mostraram que dá para ter dois grandes filmes no mesmo fim de semana”.
Classic Cinemas foca em consistência
Chris Johnson, CEO da Classic Cinemas, viu Divertida Mente 2 quebrar recordes em suas 16 salas. Ele acredita que a consistência é mais importante do que grandes picos de audiência.
“Prefiro ter seis filmes medianos do que um sucesso gigante e mais nada ao redor”, afirma.
A rede também se preocupa com a acessibilidade dos preços. “Fazemos refil gratuito até no combo infantil. Não adianta repassar todo aumento de custo para o cliente, senão a gente perde a confiança dele”, comenta.
O que esperar do futuro próximo?
Enquanto os cinemas continuam a ajustar estratégias para atrair mais público, 2025 ainda parece um ano de transição. Entre novidades no cardápio, sessões alternativas, experiências ampliadas e apostas em grandes estreias, os exibidores seguem tentando mostrar que ver um filme na telona ainda tem seu lugar, e seu valor.