A Disney retirou dois programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) de seu mais recente relatório anual. A decisão segue uma tendência entre grandes empresas, que vêm revisando suas políticas nessa área após ações do governo dos Estados Unidos.
No relatório referente ao ano fiscal encerrado em 30 de setembro de 2024, a seção de DEI já não inclui a iniciativa “Reimagine Tomorrow”.
Segundo o documento de 2023 submetido à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC.gov), esse programa era descrito como um espaço digital para amplificar vozes sub-representadas e destacar compromissos da Disney com a diversidade. O site do projeto continua ativo.
Outra remoção foi “The Disney Look”, conjunto de diretrizes sobre a aparência dos funcionários. No relatório anterior, a empresa dizia que a atualização dessas regras ajudava a criar um ambiente mais inclusivo e incentivava expressões autênticas entre os colaboradores.
Ainda não está claro se a retirada desses programas do relatório indica o encerramento completo dessas iniciativas dentro da empresa.
Empresas reavaliam políticas de diversidade
A mudança acontece em um momento em que algumas grandes empresas estão revisando suas políticas de diversidade.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reforçou sua posição contra esses programas, afirmando em um discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que “minha administração tomou medidas para eliminar toda essa conversa discriminatória sobre diversidade, equidade e inclusão”.
Nos últimos meses, grandes empresas como Target, Meta, Walmart, McDonald’s, Lowe’s, Ford, Tractor Supply e John Deere também ajustaram suas iniciativas de diversidade, segundo Yahoo Finance.
Por outro lado, Costco e Apple mantiveram seus programas e, no caso da Apple, a empresa incentivou seus investidores a rejeitarem uma proposta que pedia o fim dessas políticas.
Histórico de disputas com a Disney
A reavaliação das iniciativas de DEI acontece após anos de embates entre a Disney e o governo da Flórida.
A empresa perdeu o controle do distrito especial que gerenciava seus parques temáticos no estado da Flórida após entrar em conflito com o governador Ron DeSantis por conta da lei conhecida como “Don’t Say Gay”, que restringe o ensino de temas ligados à orientação sexual e identidade de gênero para crianças do ensino infantil até o terceiro ano.
O controle do distrito, antes chamado de Reedy Creek Improvement District (RCID), foi assumido pelo governo da Flórida em 2023, encerrando uma autonomia que a Disney tinha desde os anos 1960.
A disputa legal chegou ao fim em junho do ano passado, quando foi definido um plano de investimento de US$ 17 bilhões para o Walt Disney World Resort, em Orlando.
Durante a reunião anual de acionistas de 2024, o CEO da Disney, Bob Iger, comentou sobre a percepção de que a empresa teria uma postura política:
“Sempre acreditei que temos a responsabilidade de fazer o bem no mundo. Mas sabemos que nosso trabalho não é promover nenhum tipo de agenda. Enquanto eu estiver no cargo, vou continuar sendo guiado por um senso de decência e respeito. E sempre confiaremos em nossos instintos,”
Ao ser questionado sobre o envolvimento da empresa em questões políticas, Iger afirmou que sua responsabilidade é com os negócios e com os mais de 75 mil funcionários da Disney.
“Como CEO, meu trabalho é fazer o que for melhor para a empresa, e isso inclui investir no que for mais adequado para nossos funcionários e para o crescimento da companhia”, disse. “Não acho que devamos nos posicionar sobre todas as questões.”
Iger também reconheceu que há situações em que a empresa pode precisar se manifestar. “Entendo que existem áreas cinzentas. O critério deve ser sempre se a questão impacta diretamente nosso negócio ou nossa equipe.”