
Imagine criar sua própria série com personagens da Disney. Pois parece que isso está muito perto de acontecer! A startup Fable, que acaba de lançar publicamente sua plataforma Showrunner, está em negociações com a Casa do Mickey e outros grandes estúdios para viabilizar o uso oficial de personagens e universos consagrados em suas produções interativas criadas com inteligência artificial. A ideia é permitir que fãs possam criar cenas e episódios inéditos usando mundos já conhecidos do público, como parte de uma nova forma de consumir e participar do entretenimento.
A Fable descreve o Showrunner como a “Netflix da IA“, uma plataforma onde o usuário pode escrever algumas palavras e gerar, de forma automática, cenas ou até episódios inteiros de séries. Isso pode ser feito com personagens próprios ou dentro de universos já existentes, contanto que haja licenciamento.
“A versão ‘Toy Story’ feita por IA não será só uma versão barata do filme original. A nossa ideia é que ela seja jogável, com milhões de cenas novas, todas pertencentes à Disney”, explicou Edward Saatchi, CEO e cofundador da Fable.
É nesse contexto que surge o interesse em parcerias com estúdios como a Disney, para trazer propriedades intelectuais consagradas para a plataforma, com uso autorizado.
Essas conversas ganham um peso ainda maior diante do atual cenário jurídico. Recentemente, Disney e Universal entraram com um processo contra a empresa Midjourney, acusando a plataforma de usar seus personagens de forma ilegal em imagens geradas por IA.
A acusação se baseia no uso de conteúdos protegidos por direitos autorais sem autorização, o que acaba pressionando startups como a Fable a buscarem acordos formais com os detentores das marcas.
O que é o Showrunner e como funciona

Lançado após uma fase de testes fechados com 10 mil usuários, o Showrunner está disponível inicialmente de forma gratuita. A plataforma permite criar cenas animadas com base em comandos simples e também inserir o próprio rosto e de amigos nas histórias, o que se mostrou uma função bastante popular durante os testes.
A visualização dos conteúdos é gratuita, e os vídeos podem ser compartilhados em redes como o YouTube. No futuro, a empresa pretende cobrar entre 10 e 20 dólares por mês de quem quiser produzir suas próprias histórias com mais volume.
A base tecnológica do serviço é o modelo proprietário SHOW-2, desenvolvido pela própria Fable. Ele é uma evolução do SHOW-1, que chamou atenção no ano passado ao gerar nove episódios inspirados em South Park, sem permissão dos criadores, embora não tenham sido usados comercialmente. Esses vídeos ultrapassaram 80 milhões de visualizações.
Séries já disponíveis – foco em animação

Duas séries originais estão disponíveis no lançamento. Exit Valley é uma comédia no estilo Family Guy, ambientada em uma versão fictícia de São Francisco dominada por figuras da tecnologia como Sam Altman e Elon Musk.
Já Everything Is Fine mostra um casal em crise durante uma visita ao Ikea, que acaba transportado para um mundo alternativo onde precisa se reencontrar.
Por enquanto, a Fable está focada em produções animadas, que demandam menos poder de processamento em comparação com vídeos realistas. Isso também ajuda a empresa a evitar a briga direta com gigantes como Google, Meta e OpenAI, que estão investindo pesado na criação de vídeos hiper-realistas.
“Nosso objetivo é ter os modelos mais criativos, não entrar na guerra do realismo”, afirmou Saatchi. Segundo ele, a Fable quer oferecer uma nova forma de mídia, mais próxima dos videogames do que do cinema tradicional.
Tecnologia ainda tem limites
Saatchi admite que a IA ainda não consegue sustentar histórias longas como uma série com dezenas de episódios, como Breaking Bad ou Game of Thrones. O modelo atual funciona melhor com conteúdos episódicos, em que os personagens recomeçam a cada episódio, como em sitcoms e séries policiais.
A empresa também afirma ter implementado mecanismos para impedir abusos, como conteúdos ofensivos ou uso ilegal de propriedade intelectual. Esses “guardrails” incluem análises automáticas para verificar se determinada ação faz sentido dentro do universo da história e bloqueios para comportamentos ilegais.
Trajetória da empresa

A Fable, que tem sede em São Francisco e uma equipe de 15 pessoas, recebeu recentemente um investimento da Amazon para expandir a plataforma. O valor não foi divulgado. A empresa já contava com aportes anteriores de fundos como Day One Ventures, 8VC e Greycroft.
Edward Saatchi tem experiência com projetos inovadores. Antes da Fable, ele fundou o Oculus Story Studios, ligado à empresa de realidade virtual comprada pelo Facebook em 2014. O estúdio ganhou um Emmy pelo curta Henry, mas foi encerrado em 2017. A partir daí, Saatchi redirecionou seu foco para histórias interativas com IA, dando origem à Fable Studio em 2019.
Mais informações estão disponíveis no site oficial: showrunner.xyz.
Fonte: Variety