
O novo filme de ação Caçadores Do Fim Do Mundo adapta a série da Red 5 Comics e reúne um trio que chama atenção: Samuel L. Jackson, Dave Bautista e Olga Kurylenko. A produção chega ao público em setembro e surge enquanto Jackson se prepara para entrar no universo de Taylor Sheridan e liderar o primeiro derivado de Tulsa King ao lado de Sylvester Stallone.
O diretor J. J. Perry, ex-coordenador de dublês com passagem por grandes franquias, volta a trabalhar com Bautista após O Jogo do Assassino, parceria iniciada depois da estreia dele na direção com Dupla Jornada.
Antes do lançamento, a dupla conversou com o Collider sobre o que deu certo e o que travou o processo, as sequências de ação mais puxadas, as limitações de tempo e orçamento, os motivos que levaram Bautista a evitar colegas problemáticos e um status do reboot de Highlander com Henry Cavill.
Caçadores Do Fim Do Mundo parte de uma premissa direta: uma supererupção solar destrói o hemisfério leste, e a missão solo de um caçador de tesouros na Europa muda quando ele percebe que precisa virar o herói mais improvável do planeta.
Bautista ainda aparece em alta depois de uma participação cômica no reboot de Corra Que a Polícia Vem Aí!, estrelado por Liam Neeson, enquanto Kurylenko integra o elenco de Thunderbolts* e Jackson transita entre projetos para cinema e TV. O encontro com Perry recoloca em cena a parceria testada em O Jogo do Assassino.
Cenas de ação que exigiram tudo

Questionados sobre as sequências mais difíceis das carreiras, os dois revisitaram momentos que ficaram marcados.
“Ah, porra. Eu sei qual foi a minha, mas acho que vou ter uma resposta nova depois que eu terminar este Highlander“, disse Bautista, ao relembrar uma cena longa de luta em Guardiões da Galáxia.
“Era um plano-sequência com umas 50 pessoas. Fizemos 23 takes. Eu estava acabando com o dublê. Depois do décimo, ele levantava cada vez mais devagar. No fim, nem usaram a cena.”
Perry voltou a Bem-vindo à Selva. “Eu estava dobrando o Seann William Scott, e o dublê do The Rock e eu descemos uma montanha. A gente jogou um jipe de um penhasco, pulou fora, caiu a ladeira inteira, passou por Kapena Falls, e o jipe veio atrás. Descemos aquilo umas 13 vezes porque o cable cam não acompanhava. O dublê do Rock, Tanoai Reed, tinha uns 129 quilos, e eu estava algemado nele. Eu ficava, ‘cara, não cai em cima de mim’, e ele, ‘relaxa’. Cotovelos e joelhos, pow, pow, em toda tomada.”
Quando o entrevistador lembrou que Perry venceu o Taurus Award em 2004, ele confirmou. “É isso. O Taurus. Foi isso mesmo.”
A conversa pulou para recomendações recentes e hábitos fora do set. Perry citou a série Adolescente. “Achei muito boa. É tipo um plano-sequência, muito pesada.” Bautista admitiu que estava sem leituras em dia por causa do fuso. “Estamos tentando ver Superman faz quatro dias e estamos exaustos. Ainda não vi.”
Ao falar de cozinha, Bautista foi direto. “Eu basicamente faço uma coisa para amigos e família. É frango adobo. O J. J. já comeu. Faço numa panela grande, serve muita gente, é um prato tradicional filipino. Se você ganha frango adobo, é porque eu amo você.” Perry seguiu na mesma vibe. “Sou do Texas. Me põe na grelha que eu resolvo. Gosto de pegar um ribeye com osso e abrir borboleta. Fica bom.”
Provocados sobre quem venceria uma briga, Joe Flood, de O Jogo do Assassino, ou Jake, de Caçadores Do Fim Do Mundo, Bautista escapou com humor. “Não me coloca nessa.” Na sequência, riu e trocou o assunto. “Drax.”
Como Caçadores Do Fim Do Mundo saiu do papel
A produção passou anos em desenvolvimento. Perry detalhou a trajetória. “É curioso você falar isso. Caçadores Do Fim Do Mundo chegou para mim há 12 anos para eu ser coordenador de dublês. Cinco anos atrás, voltaram precisando de diretor de segunda unidade, e eu peguei O Jogo do Assassino e trabalhei com o Dave. Eu já tinha lido o roteiro umas vezes. O Dave veio e disse, ‘tenho um filme chamado Caçadores Do Fim Do Mundo. Já ouviu falar?’. Soava familiar. Ele falou, ‘queria que você dirigisse’, e foi assim, enquanto filmávamos O Jogo do Assassino. Ir de coordenador, talvez segunda unidade, até cair no meu colo com alguém com quem eu já estava trabalhando e que é meu amigo, foi assim que aconteceu.”
Bautista contou o lado dele. “Eu estava acompanhando O Jogo do Assassino há anos. Ia e voltava. Quando voltou, eu não queria fazer filme de ação. Eu queria papéis dramáticos. Pediram para eu conversar com o J. J. e eu meio que me apaixonei pelo J. J. A gente bateu, ele disse as coisas certas. Achei que ia ser divertido, e foi.”
A parceria pesou quando Caçadores Do Fim Do Mundo reapareceu. “Eu tinha decidido evitar ação, mas pensei, ‘eu faria isso com o J. J.’. Conversamos. Foi uma estrada cheia de solavancos. Chegar lá não foi fácil, mas conseguimos.”
Trabalho com gente difícil ficou no passado

Em determinado momento, o papo entrou em clima de bastidor de set. O entrevistador comentou que longas jornadas com pessoas problemáticas tornam a filmagem insuportável. Bautista não hesitou.
“É absolutamente horrível. Estou na idade e no ponto da vida em que a vida é curta pra caramba. Quero trabalhar com quem eu amo e respeito, porque eu amo esse negócio. Se a pessoa não quer estar ali, eu não quero estar com ela. Não quero ouvir gente reclamando de algo que a gente tem a sorte de fazer.”
Perry concordou. “Amém, irmão. Amém.”
Com muito conteúdo de ação, pouco tempo e orçamento enxuto, a pré-produção virou diferencial. Bautista puxou o assunto.
“O J. J. vai te dar uma resposta melhor, mas eu nunca vi alguém pensar tanto na pré. A gente planeja tudo para seguir em frente com cronograma e verba limitados. Ele organiza de um jeito que dá para fazer. Eu falei para ele, ‘pega leve’, porque se você precisa de 50 dias e aceitam te dar 30, e você diz ‘eu faço’, da próxima vez te dão 25. E ele faz. Mas exige muito preparo. Ele é o cara com o plano.”
Perry explicou o método. “Podem me chamar de J. J. 42 porque eu dirigi três filmes e todos foram em 42 dias, sem segunda unidade de verdade. Isso vem de anos como diretor de segunda unidade. O tempo é finito, o orçamento é finito, mas a expectativa existe e você precisa entregar, sem matar alguém a 160 por hora com carro explodindo numa cidade travada. Quando você leva isso para a primeira unidade, vira hiperpreparo. Você se cerca de atores talentosos e cria chance para eles irem bem. Mover a unidade, ser eficiente e distribuir o tempo para as melhores performances é curva de aprendizado. No terceiro filme, acho que eu estou melhorando. Se aparecer um trabalho com mais de 42 dias, eu sou o cara.”
Dave Bautista, Highlander e o papel que ele perseguiu
O Collider perguntou sobre Highlander. Bautista foi transparente ao contar como buscou o papel de Kurgan. “Eu estou atrás desse papel há muito tempo. Acho que tuitei sobre ser o Kurgan há mais de dez anos. Eu sempre amei a atuação do Clancy Brown como o Kurgan. Eu gosto de ser o vilão. Quando isso começou a andar e o Chad pegou, anos atrás, ainda na Lionsgate, eu passei a acompanhar. Quando foi para a Amazon MGM, eu estava com o J. J. e pedi, ‘coloca uma boa palavra com o Chad’. Ele colocou. O Chad foi à première de O Jogo do Assassino. Eu entrei e falei que queria o papel. Eu não faço jogo. Se eu quero, eu persigo.”
A confirmação veio de surpresa. “Eu achei que tinham seguido sem mim. De repente, recebi a ligação: ‘você ainda quer o papel?’. Eu, ‘porra, claro que quero’. Ele mandou o roteiro, eu li, e conversamos no dia seguinte.”
Sem revelar detalhes do texto, Bautista descreveu a proposta. “Sem falar demais, é um reboot ótimo. Faz homenagem ao original e deixa tudo novo e empolgante, com construção de universo. É maior que o original. A ação está no nível de John Wick. Você não vai ver a mesma coisa. É o mesmo universo, mas diferente, novo e maior. Parece uma versão atualizada e em alta velocidade de Highlander.”
No fechamento da entrevista, o jornalista brincou com o treinamento de espada. Bautista devolveu na mesma moeda. “Eu estou. Há um mês e meio eu treino com essa porra de espada.”