Rob Liefeld anunciou que não trabalhará mais com a Marvel. O criador dos personagens Deadpool e Cable decidiu encerrar sua parceria com a editora após mais de três décadas.
A decisão foi detalhada em um episódio de 90 minutos do seu podcast Robservations e confirmada em entrevista ao The Hollywood Reporter.
O estopim teria sido uma série de situações durante a premiére de Deadpool & Wolverine, em julho de 2024, em Nova York.
Liefeld afirma que não foi convidado para a festa pós-evento e que se sentiu ignorado por executivos da Disney e da Marvel Studios, incluindo Kevin Feige, que teria passado por ele no tapete vermelho sem reconhecê-lo.
“Foi uma tentativa de me diminuir”, diz Liefeld
Durante o podcast, Liefeld desabafou sobre o ocorrido: “Foi feito para me envergonhar, me diminuir, me derrotar”, disse, referindo-se à exclusão da festa.
Outro ponto de frustração foi a remoção de fotos profissionais tiradas no evento ao lado da equipe do filme. Ele diz que foi informado de que essas imagens foram deletadas e que os cliques foram apenas uma “formalidade”.
No entanto, outras fotos de Liefeld sozinho e com sua família foram disponibilizadas no portal de imprensa da Disney.
Diante desses episódios, Liefeld concluiu que a Marvel não queria mais sua presença e decidiu cortar os laços com a editora.
“Em algum momento, você recebe a mensagem. E a mensagem foi bem clara”, afirmou.
Desconforto crescente com a Marvel
Liefeld revelou que sua insatisfação com a Marvel já vinha desde o início de 2023, quando a empresa alterou os créditos de criação do Wolverine, atribuindo a coautoria ao editor Roy Thomas.
Embora o personagem tenha sido criado décadas antes da chegada de Liefeld aos quadrinhos, ele era próximo de Christine Valada, viúva do cocriador Len Wein, que ficou incomodada com a mudança.
No ano seguinte, em junho de 2024, Liefeld enviou um e-mail para a Marvel solicitando um crédito especial em Deadpool & Wolverine, além de perguntar sobre possíveis acessos a eventos promocionais e estreias.
Ele ressaltou que não estava pedindo dinheiro, pois já possui um dos contratos mais vantajosos entre os criadores da Marvel Comics.
O artista comparou sua situação à dos criadores de Superman, Jerry Siegel e Joe Shuster, cujos nomes apareceram nos créditos de abertura do filme de 1978.
No e-mail, ele escreveu: “A forma como a Marvel trata os criadores nunca foi seu ponto forte. Sem as ideias e os personagens que criamos, não há filmes para gravar, nem blockbusters para distribuir”.
Liefeld não recebeu uma resposta oficial da Marvel, mas seus agentes foram informados de que o e-mail não foi bem recebido internamente.
No dia seguinte, ele fez um post no X (antigo Twitter) dizendo: “Meus agentes foram xingados hoje: ‘Nós não somos a Fox!’. Nem me falem. Também desligaram na cara deles.” Ele acredita que essa tensão foi o que levou a Marvel a não convidá-lo para a festa de estreia.
O relacionamento conturbado
Rob Liefeld se tornou um dos criadores mais bem pagos da indústria nos anos 1990 e sempre teve um relacionamento polêmico com a Marvel. Ele tem um histórico de minimizar as contribuições de outros roteiristas e artistas que trabalharam com Deadpool.
Muitos apontam para uma entrevista ao The New York Times de 2016, em que ele diminuiu a importância de Fabian Nicieza, cocriador do personagem.
Por outro lado, Liefeld afirma que sempre defendeu que tanto ele quanto Nicieza recebessem crédito nos filmes Deadpool e Deadpool 2.
Ele também elogiou Joe Kelly, roteirista que introduziu a quebra da quarta parede no personagem sete anos depois de sua estreia, e reconheceu o papel de Ryan Reynolds em transformar Deadpool em um fenômeno global.
No entanto, no novo filme, Liefeld e Nicieza receberam apenas o crédito padrão de “criadores de Deadpool” nos créditos finais.
Homenagens no filme não foram suficientes
Apesar da insatisfação, Liefeld teve seu nome homenageado em Deadpool & Wolverine. A cena em que os protagonistas enfrentam a Tropa Deadpool acontece em frente a uma loja chamada “Liefeld’s Just Feet”, uma piada interna sobre sua fama de evitar desenhar pés nos quadrinhos.
Ele também foi convidado para visitar o set de filmagens em Londres, algo que poucos criadores de quadrinhos conseguem. No entanto, afirmou que se sentiu deslocado e desconfortável nessa visita, sem entrar em detalhes.
Liefeld comparou essa experiência com sua participação nos filmes anteriores, produzidos pela 20th Century Fox, onde se sentiu mais valorizado.
Ele lembrou que foi envolvido nos testes de exibição e na estratégia de marketing de Deadpool 2, afirmando: “Eles me incluíram e eu não causei nenhum problema. Estava feliz por estar lá”.
Críticas a Kevin Feige
Durante seu podcast, Liefeld fez uma declaração polêmica sobre Kevin Feige, que geralmente é bem visto entre fãs e profissionais da indústria: “Kevin Feige não trata bem os criadores de quadrinhos. Essa é a minha experiência pessoal”.
Ele sugeriu que Feige poderia melhorar sua relação com os criadores e lamentou que o executivo não tenha interagido com ele e sua família na estreia do filme. Para Liefeld, a Marvel deveria valorizar mais os criadores originais, citando James Gunn, da DC Studios, como um exemplo positivo por sempre reconhecer os autores e até convidá-los para visitar os sets de filmagens.
Por outro lado, Feige já demonstrou apreço pelos criadores em várias ocasiões, mencionando-os em painéis da San Diego Comic-Con e convidando alguns para eventos e visitas aos sets da Marvel Studios.
Em outubro de 2024, a Marvel organizou um painel especial na New York Comic Con, reunindo criadores de quadrinhos e astros das produções do estúdio.
Um desfecho amargo
Apesar das críticas e ressentimentos, Liefeld ainda promoveu Deadpool & Wolverine em sessões especiais para fãs em 2024.
No podcast, ele admitiu que ficou receoso de compartilhar sua experiência, mas sentiu que era necessário: “Você não pode falar só das vitórias. Às vezes, é preciso dividir os fracassos. E esse foi um deles”.
A despedida da Marvel acontece na mesma semana em que seu último trabalho para a editora chega às bancas, Deadpool Team-Up #5.
Mesmo magoado, Liefeld registrou que precisava contar sua versão da história: “Era importante que as pessoas ouvissem minha voz. Em alguns momentos, foi difícil esconder o quanto isso me deixou triste”.