Ator de 9-1-1 vai a julgamento após se recusar a tomar vacina contra COVID-19

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O ator Rockmond Dunbar, que interpretou Michael Grant em 68 episódios da série 9-1-1, irá a julgamento nesta terça-feira (14) nos Estados Unidos. Ele afirmou que foi demitido da produção por causa de suas crenças religiosas, que o impediriam de tomar a vacina contra a COVID-19.

Dunbar deixou o elenco da série em novembro de 2021, pouco depois de os estúdios de Hollywood passarem a exigir vacinação contra o coronavírus para atores e equipes técnicas. Segundo ele, sua decisão foi motivada por sua fé na Congregation of Universal Wisdom (CUW), grupo religioso que considera um pecado injetar substâncias químicas que “contrariam a lei natural”.

O que a Disney alega

A 20th Television, estúdio controlado pela Disney e responsável por 9-1-1, argumenta que Dunbar usou uma justificativa religiosa falsa para escapar da obrigação de se vacinar.

Durante a fase de investigação, os advogados da empresa descobriram que o ator havia recebido outras injeções, incluindo esteróides para dores no ombro e testosterona sintética aplicada regularmente desde 2018 em uma clínica chamada The Man Clinic.

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Rockmond Dunbar

Os representantes da Disney sustentam que o problema não é a escolha pessoal do ator, mas se essa escolha foi realmente baseada em convicções religiosas sinceras. O caso será analisado com base na Lei dos Direitos Civis dos Estados Unidos de 1964, que obriga empregadores a oferecer acomodações razoáveis para práticas religiosas genuínas.

Sobre a CUW

A Congregation of Universal Wisdom foi fundada em 1975 pelo quiroprático Dr. Walter Schilling, em Nova Jersey. O grupo tem histórico de usar suas crenças para evitar exigências de vacinação em escolas. Walter Schilling, hoje com 82 anos, não comparecerá ao julgamento por motivos de saúde, mas seus depoimentos gravados serão exibidos ao júri.

Em sua declaração, Schilling explicou que a igreja não possui templo físico nem reuniões regulares, e que é possível se tornar membro por meio de um formulário e do pagamento de uma taxa. De acordo com o site SeekWisdom.life, o valor é de 100 dólares de contribuição + 38 dólares do processamento do pedido.

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Aviso no site SeekWisdom.life com os valores da filiação à CUW

“Muitas pessoas compartilham nossas crenças, mas não têm um local para validá-las. Quando começaram as obrigatoriedades, isso incentivou mais gente a se juntar à igreja,” afirmou o fundador.

Ele também declarou que seria “sacrilégio” aplicar em si qualquer substância sintética, incluindo testosterona.

Os argumentos de defesa de Rockmond Dunbar

Os advogados do ator afirmam que ele segue um conjunto de crenças que combinam os ensinamentos da CUW com aspectos do budismo e da fé iorubá africana.

Segundo um documento obtido pela Variety e apresentado antes do julgamento, “desde 2014, o autor mantém crenças religiosas sinceras que o impedem de receber vacinas, pois acredita que elas prendem sua alma à Terra, impedindo sua ascensão espiritual após a morte.”

Dunbar e sua esposa, Maya Dunbar, devem testemunhar durante o julgamento, assim como o showrunner de 9-1-1, Tim Minear.

O ator argumenta que não é necessário seguir todos os preceitos da CUW à risca para que suas crenças sejam protegidas pela lei. Ele declarou ainda que “não é contra a medicina ocidental feita com o consentimento de Deus ou que não prejudique sua comunicação com Deus.”

Registros médicos

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Rockmond Dunbar

Durante o processo, Dunbar não entregou voluntariamente seus prontuários médicos aos advogados da Disney. Os documentos acabaram sendo obtidos de 44 prestadores de serviço, incluindo o Dr. Fong, da The Man Clinic, que confirmou o uso frequente de testosterona e de anastrozol, medicamento usado para evitar o crescimento de tecidos mamários, um efeito colateral comum da terapia hormonal.

A juíza Dolly Gee criticou o ator por omitir informações consideradas essenciais e rejeitou a tentativa de sua defesa de impedir o uso dos registros no julgamento.

“Os prontuários médicos de Dunbar mostram comportamentos contrários aos princípios da religião CUW. Essas evidências são relevantes para avaliar se suas crenças são sinceras ou apenas convenientes,” escreveu a magistrada.

Em depoimento, Dunbar explicou que chegou à conclusão sobre a vacina após um “sinal divino”: “Acredito que Deus disse a todos, antes ou durante o momento da aplicação, para não tomar a vacina. Quem tomou falhou em seu teste espiritual.”

Grande parte das outras alegações de Dunbar já foi rejeitada pela Justiça, mas a juíza decidiu que um júri deve avaliar se suas crenças religiosas são genuínas ou usadas apenas como justificativa para descumprir a política de vacinação do estúdio.

De acordo com reportagem publicada pela Variety, as tentativas de acordo entre o ator e a Disney não tiveram sucesso, e o julgamento deve trazer à tona um dos temas mais polêmicos do período da pandemia: até que ponto a liberdade religiosa pode servir de argumento em situações que envolvem regras de saúde pública.

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