Transformar livros em séries de TV pode dar muito certo, como aconteceu com Outlander, Normal People, A Maldição da Residência Hill e Você. Mas também há casos em que os fãs não se identificam tanto com o resultado, como em 13 Reasons Why, Nancy Drew e Pequenos Incêndios por Toda Parte. E quando se trata de séries literárias, o risco aumenta ainda mais, basta ver as reações dos leitores a Game of Thrones e Entrevista com o Vampiro.
No meio desse cenário, Will Trent: Agente Especial conseguiu se destacar. Parte desse sucesso vem de uma escolha feita pela autora dos livros, Karin Slaughter.
Origem literária de Will Trent: Agente Especial
A série Will Trent começou nos livros em 2006, com uma coleção que já soma 12 volumes, o mais recente lançado em 2024. No início, a trama focava em Michael Ormewood e Angie Polaski, dois detetives veteranos. Logo depois, o agente Will Trent, do Departamento de Investigações da Geórgia, assume o protagonismo.
A série literária se apoia em tramas policiais bem densas e personagens que carregam histórias intensas. Já a versão da TV, que estreou em janeiro de 2023 e finalizou a terceira temporada em maio deste ano, segue um caminho diferente.
O tom da adaptação foi suavizado para se encaixar melhor à proposta da rede ABC, com momentos mais leves e até cômicos. Isso mudou bastante a essência de personagens como Ormewood. Nos livros, ele é retratado como um policial violento e corrupto. Na série, interpretado por Jake McLaughlin, ele é um pai dedicado, bem-humorado e íntegro.
Essas mudanças não foram por acaso.
Karin Slaughter abriu mão do controle da série
A autora Karin Slaughter escolheu não interferir diretamente no desenvolvimento da adaptação. Em entrevista para o TV Guide durante um evento da Television Critics Association, ela comentou:
“O livro é o livro, e a série é a série.”
Sem sua presença constante na sala dos roteiristas, os criadores da série tiveram mais liberdade para moldar os episódios conforme o formato da TV pede. Slaughter ainda comentou:
“Essa série realiza tudo o que eu sempre quis fazer nos livros, que é contar uma história excelente, e eles conseguiram isso.”
Com essa decisão, o roteiro pôde seguir um caminho independente dos livros. Isso abriu espaço para que novos elementos fossem explorados, até mesmo para quem já leu a série literária se surpreender com o que vê na tela.
Adaptação ganhou seu próprio público
Ao reduzir a violência gráfica e os elementos mais pesados, a série se tornou mais acessível para quem prefere algo menos sombrio. Mesmo assim, alguns momentos continuam carregados de tensão.
Na terceira temporada, por exemplo, há uma cena em que Will (Ramón Rodríguez) acaba matando uma criança por engano durante uma investigação. Isso o leva a se afastar da namorada Marion (Gina Rodriguez) e mergulhar no luto.
Esse tipo de abordagem traz parte da intensidade dos livros, mas de forma adaptada ao formato da série, mantendo o equilíbrio para não afastar quem busca algo mais leve.
O que vem por aí em Will Trent
A quarta temporada já está confirmada e a reta final do terceiro ano deixou várias pontas soltas. Amanda (Sonja Sohn) levou um tiro e ficou em coma. Ormewood desmaiou, possivelmente por causa de um tumor cerebral. Will vive uma fase bastante turbulenta após esses acontecimentos.
Além disso, Angie (Erika Christensen) decide ter o bebê de outro homem, e Will conhece seu pai biológico.
Boa parte dessas reviravoltas talvez não existisse se a adaptação tivesse seguido à risca os livros. A liberdade criativa da equipe de roteiristas tem garantido novos rumos para a série, sem depender das mesmas decisões tomadas nos romances.
Karin Slaughter continua expandindo o universo de Will Trent nas páginas, enquanto a série televisiva segue um caminho próprio. Assim, quem acompanha os livros ou assiste à série pode ter experiências diferentes com os mesmos personagens.
As três temporadas de Will Trent: Agente Especial estão disponíveis no Disney+.