
Poucas coisas na cultura pop têm uma fama tão ruim quanto o Guerra nas Estrelas – Especial de Natal (The Star Wars Holiday Special). O filme foi exibido uma única vez em 1978 e logo desapareceu a pedido de George Lucas. Desde então, virou lenda, passado de fã para fã em fitas VHS, cercado de curiosidade e vergonha alheia.
George Lucas chegou a dizer que queria “encontrar todas as cópias e destruí-las com uma marreta”. E, olha, dá pra entender o motivo. O especial é um desastre total, mas também uma peça curiosa da história de Star Wars.
A história que ninguém pediu
Depois que Star Wars virou um fenômeno mundial, os executivos quiseram manter o público interessado enquanto a sequência não saía. A ideia foi juntar o universo criado por Lucas com o formato de um programa de variedades de fim de ano, e o resultado foi algo que mistura sitcom, musical e ficção científica sem sentido.
Na época, a proposta nem parecia tão absurda. Nos anos 1970, era comum ver artistas participando de especiais de Natal na TV norte-americana, de Frank Sinatra a John Denver. O problema é que George Lucas estava ocupado com O Império Contra-Ataca, então a CBS contratou roteiristas de programas de humor, e o tom de Star Wars simplesmente não combinou com isso.
O “enredo” gira em torno da família de Chewbacca, sua esposa Malla, o pai Itchy e o filho Lumpy, esperando o retorno dele para o feriado dos Wookiees, o tal “Dia da Vida”. Os primeiros 10 minutos mostram os três cozinhando e decorando a casa enquanto grunhem sem legendas. Parece uma sitcom sem risadas, em uma língua inventada.
Depois, o especial fica ainda mais bizarro. Malla assiste a um programa de culinária estrelado por Harvey Korman, que interpreta um robô com vários braços. Bea Arthur canta para clientes no bar de Mos Eisley. Jefferson Starship aparece em um número holográfico. Luke Skywalker e Han Solo surgem em participações visivelmente constrangidas. E, pra completar, Carrie Fisher encerra tudo cantando uma música natalina ao som do tema de Star Wars.
Uma relíquia de uma galáxia em construção

Apesar do caos, o especial serve como uma cápsula do tempo. Naquele momento existia apenas um filme de Star Wars. Não havia trilogia, prequels ou séries. Ninguém sabia exatamente o que a franquia era ou o que podia se tornar.
O programa reflete essa confusão, um pedaço de televisão dos anos 1970 com cenários toscos e figurinos de Wookiees que pareceriam malfeitos até em uma feira barata de cosplay. Mas, em meio à bagunça, algumas ideias acabaram sobrevivendo.
O desenho animado dentro do especial apresentou Boba Fett pela primeira vez, muito antes de O Império Contra-Ataca.
E o feriado “Dia da Vida”, que nasceu como uma piada, hoje aparece em produtos, eventos e até nos parques da Disney, onde é possível ver Chewbacca com a roupa do especial.
Por que deveria estar no Disney+

O especial de Natal de Star Wars é ruim, sim, mas também faz parte da história da franquia.
Colocá-lo no Disney+ não seria para celebrar, e sim para preservar. Afinal, o streaming já abriga todas as fases da saga, desde os clássicos até as produções mais contestadas.
Assistir ao especial é ver Star Wars antes de virar o fenômeno controlado que conhecemos hoje. É testemunhar um tropeço que mostra muito sobre como o sucesso e o caos andavam lado a lado naquele início.
E, convenhamos, se Carrie Fisher já usava o especial em festas para espantar convidados, os assinantes do Disney+ também merecem essa experiência única, pelo menos uma vez na vida.