Tron: Ares inverte tudo o que os fãs sabiam sobre o mundo digital da franquia

AVISO: O texto a seguir contém spoilers de Tron: Ares.

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A franquia Tron retorna aos cinemas com seu terceiro filme, Tron: Ares, mas a recepção não foi exatamente a esperada. A nova produção dividiu público e crítica. No agregador Rotten Tomatoes, o filme recebeu apenas 55% no Tomatometer, enquanto o público deu uma nota bem mais alta: 87% no Popcornmeter. A diferença mostra que, apesar das críticas mornas, muita gente saiu satisfeita da sessão.

O que mais chama atenção em Tron: Ares é como o filme inverte a lógica que os fãs estavam acostumados. Nos dois primeiros filmes, Tron (1982) e Tron: O Legado (2010), os personagens humanos eram transportados para dentro do Grid, um mundo virtual.

Desta vez, a proposta é oposta: o que acontece quando esse universo digital invade o mundo real? Essa inversão torna o conceito do Grid mais próximo do que conhecemos da tecnologia atual.

Julian Dillinger cria sua própria versão do Grid de Kevin Flynn

Julian Dillinger (Evan Peters), neto de Edward Dillinger, assume o papel de vilão principal em Tron: Ares. Assim como o avô, ele é o novo presidente da Dillinger Systems, a maior rival da ENCOM. Extremamente inteligente, Julian consegue recriar o Grid desenvolvido por Kevin Flynn, mas com um visual e propósito bem diferentes.

O novo Grid é sombrio, dominado por tons de preto e vermelho neon, contrastando com o azul e branco brilhantes dos filmes anteriores. Nesse ambiente, Julian cria Ares (Jared Leto), um programa de controle mestre programado para obedecer suas ordens sem hesitar.

Ares leva sua função muito a sério, mas começa a questionar o criador ao perceber sua falta de empatia e moral. Ele conta com o apoio de outros programas, como Athena (Jodie Turner-Smith), que o ajudam a proteger o Grid e cumprir as ordens de Julian.

Mas Tron: Ares vai além do mundo virtual. Julian desenvolve uma tecnologia capaz de trazer programas para o mundo real. O problema é que essas entidades digitais só conseguem se manter estáveis por 29 minutos fora do Grid. Para resolver isso, ele precisa do Código de Permanência criado por Kevin Flynn, uma sequência que permite que qualquer ser digital exista permanentemente na realidade. Esse código se torna o grande objetivo de vários personagens, mas o interesse de Julian é militarizar os programas e transformá-los em soldados descartáveis e reconstruíveis.

Essa é uma das maiores diferenças em relação aos filmes anteriores. Embora Tron: O Legado mostre Quorra escapando para o mundo real ao lado de Sam Flynn, a maior parte da história ainda se passa dentro do Grid. Em Tron: Ares, acontece o oposto: boa parte da trama se desenvolve fora do ambiente digital, explorando as consequências de trazer programas para a realidade.

Enquanto alguns fãs e críticos acharam que essa escolha tirou parte do encanto original, a ideia faz sentido dentro da lógica da franquia. Se pessoas podem entrar no mundo digital, é natural que, em algum momento, o processo se inverta. A CEO da ENCOM, Eve Kim (Greta Lee), acredita que a tecnologia poderia ser usada para criar alimentos e remédios. Julian, por outro lado, enxerga uma oportunidade de desenvolver armas vivas e controláveis.

A expansão do Grid em Tron: Ares

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O novo filme mostra que o Grid não é mais um único sistema isolado. Ele evoluiu para uma rede muito maior, que se conecta a quase tudo: câmeras de segurança, softwares corporativos, sistemas de trânsito e até a nuvem. Em outras palavras, o Grid se tornou uma espécie de internet avançada, integrada a tudo que depende de uma conexão.

Essa expansão é mostrada em várias cenas. Ares e Athena acessam câmeras e dispositivos para rastrear Eve Kim. Já Julian usa o poder do Grid para invadir o sistema da ENCOM e sabotar o lançamento de um novo projeto, acreditando que Eve esteja com o Código de Permanência. Enquanto no mundo real ele apenas digita comandos, dentro do Grid a invasão se transforma em uma verdadeira batalha entre programas digitais.

A estética ajuda o público a entender melhor o que está em jogo. O Grid vermelho e preto de Julian entra em conflito visual com o sistema azul da ENCOM, criando uma representação simbólica de um ataque cibernético. Ares infiltra-se nos sistemas da concorrente, coleta as informações e retorna para o domínio de Julian, enquanto programas da ENCOM aparecem como defensores virtuais em uma guerra digital.

Além de visualmente marcante, essa abordagem reforça que o Grid em Tron: Ares é uma extensão mais realista do mundo conectado em que vivemos. As ações no ambiente digital têm efeitos diretos na realidade, assim como acontece hoje com sistemas online, redes sociais e bancos de dados.

O Grid como espelho do mundo real

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A evolução apresentada em Tron: Ares mostra que o Grid sempre esteve destinado a crescer e se tornar algo muito próximo da vida real. Julian Dillinger foi o primeiro a recriar o trabalho de Kevin Flynn, mas dificilmente será o último. À medida que a tecnologia se espalha, novas versões do Grid surgem, interligadas com os sistemas que compõem o mundo digital que conhecemos.

O filme sugere o poder assustador dessa tecnologia. Julian e seus programas conseguem invadir sistemas, controlar dispositivos e acessar informações com extrema facilidade. Ares vasculha o celular de Eve Kim em segundos, lendo mensagens, dados pessoais e localização. Essa facilidade deixa claro o perigo de um sistema tão integrado.

O tema toca em algo que vai além da ficção. Hoje, a maioria das pessoas vive conectada 24 horas por dia. Guardamos informações sensíveis em nossos dispositivos, usamos aplicativos para tudo e dependemos da internet para trabalho, lazer e finanças. Tron: Ares explora o medo do que pode acontecer quando essa dependência se torna uma vulnerabilidade real.

Nesse cenário, o Grid representa o ponto máximo dessa conexão: um espaço onde tudo pode ser acessado, controlado e manipulado. E, o mais inquietante, é que nem sempre quem está por trás é humano.

Programas como Ares e Athena não têm sentimentos nem senso moral; eles apenas cumprem suas ordens com eficiência total. Isso torna o universo de Tron ainda mais próximo de uma realidade onde a fronteira entre o humano e o digital praticamente desaparece.

Tron: Ares está em cartaz nos cinemas e em breve será adicionado ao Disney+.

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