
Tron: Ares marca o retorno da franquia de ficção científica da Disney depois de 15 anos. O último longa, Tron: O Legado, estreou em 2010, e desde então o único conteúdo lançado foi a animação Tron: A Resistência, que teve apenas uma temporada e está disponível no Disney+.
Embora esse hiato pareça grande, não é algo novo para a saga. Afinal, o primeiro intervalo entre filmes foi de 28 anos, do original de 1982 até O Legado. A nova espera, porém, tem explicações que envolvem tanto questões de bilheteria quanto o próprio momento do estúdio.
Quando Tron: O Legado chegou aos cinemas, a Disney esperava que o filme abrisse caminho para uma grande franquia. Dirigido por Joseph Kosinski, o longa apostava em visuais neon, uma trilha do Daft Punk e efeitos de ponta, incluindo o uso inicial da tecnologia de rejuvenescimento digital para recriar um jovem Jeff Bridges.
O problema é que, apesar do visual chamativo, a bilheteria foi apenas razoável. Foram US$ 172 milhões nos Estados Unidos e US$ 238 milhões no exterior, números sólidos, mas abaixo do que a Disney esperava para um investimento desse porte.

A crítica também foi morna: os elogios ficaram concentrados nos efeitos, enquanto o roteiro foi considerado fraco.
Em 2010, O Legado ficou como o 20º filme mais rentável do ano, atrás de títulos como Toy Story 3 e Enrolados. A ideia de criar um grande universo de ficção científica a partir dali acabou perdendo força.
Logo depois, a Disney ainda tentou outros projetos de gênero semelhante, mas com resultados piores. John Carter: Entre Dois Mundos (2012) foi um fracasso e O Cavaleiro Solitário (2013) também decepcionou.
Em 2015, Tomorrowland, dirigido por Brad Bird e estrelado por George Clooney, teve bilheteria abaixo das expectativas. Para o ator Garrett Hedlund, que interpretou Sam Flynn em O Legado, o fracasso de Tomorrowland fez o estúdio desistir de investir em ficções científicas originais por um tempo.
A verdade é que a Disney não precisava de Tron

Mesmo que O Legado tivesse ido melhor, a verdade é que a Disney entrou na década de 2010 com uma série de sucessos que tornaram Tron dispensável. A compra da Marvel em 2009 e da Lucasfilm em 2012 colocou o estúdio no controle de dois dos maiores universos do cinema.
Com a popularidade dos filmes da Marvel e a volta de Star Wars aos cinemas com O Despertar da Força, a Disney passou a ter produções de sucesso garantido. Nesse cenário, Tron acabou ficando em segundo plano.
A Casa do Mickey também começou a apostar pesado em novas versões de seus clássicos animados, como Cinderela, Mogli: O Menino Lobo e A Bela e a Fera. Além disso, o setor de animação vivia uma ótima fase, com Frozen, Detona Ralph e Operação Big Hero.
Em resumo, havia tanta coisa dando certo que investir novamente em Tron não parecia prioridade. Ainda assim, o projeto nunca foi completamente descartado. Roteiros foram escritos, e o diretor Joseph Kosinski chegou a dizer em 2017 que o projeto estava em “congelamento criogênico”.
Naquele mesmo ano, surgiram rumores de que Jared Leto seria o protagonista do terceiro filme, algo que só se confirmou anos depois, com a entrada do diretor Joachim Rønning.
Por que a Disney decidiu ressuscitar Tron agora

O retorno de Tron tem tanto a ver com a situação atual da Disney quanto com o potencial da marca.
Nos últimos anos, a Marvel começou a mostrar sinais de desgaste, com bilheterias abaixo do esperado. Star Wars também diminuiu o ritmo nos cinemas depois de A Ascensão Skywalker, e até os remakes em live-action deixaram de render como antes.
Nesse contexto, trazer Tron de volta parece uma forma de manter a engrenagem girando e explorar uma franquia que ainda tem público fiel.
Há também um motivo mais prático: o investimento nos parques. A montanha-russa Tron Lightcycle Run foi inaugurada em 2016 na Disneyland de Xangai e chegou ao Walt Disney World em 2023. Para manter o interesse do público nesses espaços, nada melhor que um novo filme reforçando a marca.
Sobre Tron: Ares
Apesar de todo o planejamento, Tron: Ares ainda é uma aposta arriscada. A franquia sempre teve uma base de fãs leal, mas nunca se tornou um fenômeno popular.
Há o desafio de adaptar o universo visual e conceitual de Tron ao público atual, acostumado a produções como Duna e Avatar. O novo filme precisa equilibrar o espetáculo visual com uma história envolvente, algo que O Legado não conseguiu plenamente.
Mesmo assim, o lançamento pode ser vantajoso para a Disney. Um resultado satisfatório já seria o suficiente para prolongar o interesse na franquia, fortalecer os parques temáticos e abrir espaço para produtos licenciados.
Tron: Ares já está em exibição nos cinemas.