
A empresa escocesa Axis Studios, responsável pela animação da série Olhos de Wakanda, lançada recentemente no Disney+, entrou em falência após enfrentar uma grave crise de fluxo de caixa. Documentos de falência obtidos pela Forbes mostram que nem mesmo o contrato com a Marvel foi suficiente para evitar o colapso do estúdio, que até então era um dos mais respeitados da indústria de animação e efeitos visuais do Reino Unido.
Embora Olhos de Wakanda tenha sido produzida pela Marvel Studios, a animação foi desenvolvida pela Axis Studios, fundada em 2000 na Escócia.
O estúdio ganhou destaque por seu trabalho em cinematics e trailers de games como Halo, Gears of War e League of Legends, além de animações para plataformas como Amazon Prime Video, Netflix e Disney+.
Entre seus projetos estão Perdidos em Oz, Scrooge: Um Conto de Natal e episódios da série Love, Death + Robots, da Netflix. O estúdio também colaborou em produções como O Pior Vizinho do Mundo, estrelado por Tom Hanks, e Shaun, o Carneiro – O Filme: A Fazenda Contra-Ataca, do estúdio Aardman.
A animação de Olhos de Wakanda se destacou por seu visual com aparência de pintura à mão, inspirado em artistas afro-americanos contemporâneos, um estilo que recebeu elogios da crítica e contribuiu para o sucesso inicial da série no Disney+.
Sucesso criativo, mas desastre financeiro

Apesar da boa recepção da série, a Forbes revelou que a Axis Studios vinha enfrentando sérias dificuldades financeiras desde a pandemia. A empresa sofreu com a queda nas encomendas de produções após 2020, especialmente no setor de jogos, que representava grande parte de sua base de clientes.
Os atrasos provocados pelas greves de roteiristas e atores de Hollywood entre 2023 e 2024 agravaram a situação, empurrando prazos e interrompendo novos contratos.
Além disso, a alta inflação e o aumento nos custos de funcionários reduziram ainda mais as margens de lucro.
Os documentos mostram que a Axis teve prejuízo de US$ 1,1 milhão em 2023, com uma receita anual de cerca de US$ 32,6 milhões, e mantinha reservas de caixa de apenas US$ 380 mil. Em junho de 2024, o estúdio já não conseguia pagar os salários dos funcionários nem os contratos com freelancers, o que levou seus diretores a buscar ajuda de administradores judiciais.
Em julho do mesmo ano, a Axis entrou oficialmente em processo de falência e foi assumida pela consultoria Interpath Advisory.
Demissões em massa e dívidas milionárias
Segundo a Forbes, a falência levou à demissão de quase todos os 151 funcionários do estúdio. Apenas quatro colaboradores permaneceram temporariamente para auxiliar no encerramento das atividades.
Entre os artistas afetados estava Arianna Querin, que trabalhou em Olhos de Wakanda e publicou em seu portfólio parte do material desenvolvido para o projeto.
“Estou incrivelmente orgulhosa de compartilhar parte do meu trabalho em Olhos de Wakanda, uma série produzida pela Marvel. Este projeto tem um significado especial para mim, não apenas porque foi criativamente divertido, mas também porque foi uma das últimas produções desenvolvidas na Axis Studios antes de seu fechamento”, escreveu Arianna.
Depois do fechamento, ela conseguiu trabalho como freelancer no estúdio Blur, conhecido por seus efeitos em Deadpool, Vingadores: Era de Ultron e Sonic: O Filme. Muitos de seus colegas, porém, ainda enfrentam dificuldades para se recolocar no mercado.
Os registros da administração judicial indicam que o banco Barclays é credor de cerca de US$ 980 mil, enquanto o fisco britânico deve receber aproximadamente US$ 2 milhões. Os funcionários também ficaram com US$ 608 mil em salários atrasados. Segundo a Forbes, não há expectativa de que os credores recebam qualquer pagamento.
Olhos de Wakanda segue no Disney+

O encerramento da Axis Studios não afetou o lançamento de Olhos de Wakanda, que já estava concluída antes da falência.
A série, criada por Ryan Coogler, se passa no mesmo universo dos filmes Pantera Negra e acompanha guerreiros de Wakanda em missões ao redor do mundo para recuperar artefatos poderosos.
Mesmo com críticas positivas e uma média de 92% no Rotten Tomatoes, a produção estreou em meio à crise que encerrou as atividades do estúdio responsável por sua animação.
O caso da Axis Studios expõe as dificuldades enfrentadas por empresas de médio porte do setor audiovisual no cenário pós-pandemia, mostrando que até colaborações com gigantes como a Marvel podem não ser suficientes para sustentar a operação de um estúdio independente.