
A Disney está se preparando para substituir os enfermeiros sindicalizados de seu estúdio em Burbank, Califórnia, por profissionais terceirizados, menos de um ano depois de fechar um novo contrato. A medida gerou forte reação entre os trabalhadores representados pelo IATSE, sindicato que representa profissionais dos bastidores da indústria do entretenimento, incluindo cinema, televisão, teatro e eventos ao vivo.
Segundo o Deadline, a empresa informou ao IATSE que vai acionar uma cláusula do Acordo Básico da categoria para contratar serviços médicos por meio de uma empresa especializada em fornecimento de pessoal. No estúdio, os enfermeiros têm a função de prestar atendimento imediato a elenco, equipe e executivos, além de supervisionar protocolos de saúde nos sets.
Uma fonte do estúdio explicou que a mudança valerá apenas para o complexo de Burbank e que os serviços médicos continuarão os mesmos. A justificativa, segundo essa fonte, é simplificar processos administrativos, de escala e de relatórios internos.
Ainda não há prazo definido para a transição, mas a notícia já movimentou os bastidores. Uma petição para manter os enfermeiros sindicalizados contratados diretamente pela Disney ultrapassou 700 assinaturas.
O Acordo Básico da IATSE com os estúdios de Hollywood impede apenas a terceirização de funções que nunca tenham sido terceirizadas antes dentro do grupo de negociação. Isso abriu espaço para a decisão, já que os enfermeiros foram terceirizados em 1989 pela Universal Studios.
Esse ponto do contrato foi um dos principais entraves nas negociações do ano passado entre a IATSE e a Alliance of Motion Picture and Television Producers. Os representantes do sindicato passaram horas tentando eliminar a cláusula sem sucesso.
Vínculo que vem de décadas
O estúdio de Burbank conta com enfermeiros sindicalizados há 85 anos, desde os tempos de Walt Disney. Após sofrer um acidente de polo, Walt recebeu cuidados da enfermeira Hazel George, que se tornou sua grande confidente.
Em 1952, ela ajudou a reunir apoio financeiro entre os funcionários para o projeto que se transformaria na Disneyland. Além do trabalho médico, Hazel também atuou como compositora e mais tarde voltou a cuidar pessoalmente de Walt até sua morte em 1966.
Hoje, o Local 80 representa profissionais de diferentes áreas em Hollywood, incluindo serviços de apoio, equipes marítimas, primeiros socorros e trabalhadores de armazém.
Reação do sindicato

DeJon Ellis, gerente de negócios do Local 80, criticou fortemente a decisão.
“O motivo oficial, para mim, dito verbalmente, é que eles querem sair do negócio de oferecer atendimento médico direto à equipe, porque existe uma questão de responsabilidade, então estão tentando evitar isso. Para mim, isso é um ataque ao sindicalismo e uma forma de usar a linguagem do contrato contra os trabalhadores.”
“Na minha opinião, trata-se de um ataque deliberado aos funcionários sindicalizados. Para o departamento de relações trabalhistas, é apenas um problema a menos. Lutamos muito contra essa cláusula. Levamos essa discussão até os momentos finais das negociações, tentando eliminá-la e depois buscando reforçar proteções extras. Afinal, de que serve ter um contrato se o trabalho pode simplesmente ser terceirizado?”