
Quem acompanha franquias de ficção científica há mais tempo já sabe: quanto maior o universo, mais difícil manter a coerência. Isso vale para Star Wars, Star Trek, Marvel, e agora parece que também chegou para Alien. O que começou como uma história de terror no espaço virou uma saga cheia de detalhes, com filmes, séries, games e quadrinhos.
Com sete filmes, dois spin-offs de Predador, uma nova série do Disney+ e muito material derivado, a franquia se expandiu bastante. E com isso, vêm as contradições. A série Alien: Earth, do FX, adiciona novos elementos ao universo da franquia, aproveitando o tempo maior que a TV oferece em comparação aos filmes.
O problema é que nem tudo que a série apresenta se encaixa com o que já foi mostrado anteriormente. E isso não parece ter sido um descuido, mas sim uma escolha consciente.
O que não bate na linha do tempo
A história de Alien: Earth se passa em 2120. Já o filme original, lançado em 1979, é ambientado dois anos depois, em 2122. Ambos envolvem missões da corporação Weyland-Yutani e começam em naves semelhantes. O detalhe é que, enquanto a missão do filme duraria menos de dois anos, a da série se estende por 65 anos.
Isso significa que a nave Maginot teria saído da Terra em 2057, bem antes da linha do tempo dos filmes mostrar a fusão entre as empresas Weyland e Yutani. Em Prometheus, por exemplo, que se passa em 2089, a empresa ainda se chama apenas Weyland Corp.

Mesmo assim, na série, o personagem Morrow, oficial de segurança da Weylan-Yutani, volta à Terra após 65 anos e ainda usa um código de acesso da Yutani. Ele até menciona que teve uma relação com a avó da atual CEO da empresa, sugerindo que a Yutani já existia como parte da corporação durante sua missão.
A confusão aumenta porque a estética da nave Maginot é quase idêntica à Nostromo, mesmo sendo supostamente lançada mais de 60 anos antes. Isso pode ser uma tentativa de manter o visual do filme de Ridley Scott, mas não faz muito sentido do ponto de vista tecnológico ou histórico.
O que diz o criador da série
Noah Hawley, o criador de Alien: Earth, já comentou que seu foco estava mais na trama geral da série do que em seguir todos os detalhes já estabelecidos nos filmes.
“Não é que eu não tenha feito uma linha do tempo considerando os eventos,” disse ele durante o SXSW deste ano (via Inverse). “Mas eu não a expandi para incluir tudo que já foi escrito.”
Ele ainda citou Prometheus como um dos pontos da franquia com os quais ele não se preocupou tanto em seguir à risca.
Tem explicação? Tem. Mas faz sentido?

Dá para pensar que a missão da Maginot começou como algo da Yutani e, no meio do caminho, virou Weyland-Yutani após a fusão. Talvez os sistemas e permissões de segurança de Morrow tenham sido atualizados enquanto ele estava no espaço. E talvez a nave, mesmo antiga, já usasse os mesmos padrões visuais e tecnológicos.
Essas explicações são possíveis, mas exigem um certo esforço do público para aceitar a bagunça na linha do tempo.
O fato é que Prometheus não é um material secundário de quadrinho ou jogo esquecido. É um dos filmes principais da franquia, dirigido pelo próprio criador, Ridley Scott. Por isso, as mudanças causam mais estranhamento do que se fossem apenas ajustes em conteúdos menores.
Além disso, causa certa dúvida imaginar como uma missão de 65 anos atravessaria tantas mudanças internas em uma empresa, passando por várias gerações de liderança. Ainda mais em uma história centrada em conflitos corporativos.
Alien: Earth está sendo exibida com episódios semanais às terças-feiras, às 21h, no Disney+.