AVISO: o texto a seguir contém spoilers dos episódios 1 e 2.

Instalada no universo de Outlander, a série derivada Blood of My Blood se volta aos antepassados de Jamie e Claire e percorre a paisagem dura das Terras Altas escocesas, com foco em alianças, segredos de família e escolhas que atravessam gerações. Essa volta no tempo amplia histórias já conhecidas da série principal e mexe em eventos que pareciam imutáveis.
Desde o início de Outlander, Claire Fraser (Caitríona Balfe) carrega a versão de que seus pais morreram em um acidente de carro em 1923. A prequel Outlander: Blood of My Blood revela outra coisa. Julia (Hermione Corfield) e Henry Beauchamp (Jeremy Irvine) também atravessaram as pedras de Craigh na Dun, as mesmas que a filha usaria anos depois.
Para quem está acompanhando a série no Disney+, a revelação surpreende e mexe com o que estava estabelecido nos livros de Diana Gabaldon. Ao recolocar Julia e Henry como viajantes no tempo, a produção revira as bases do que Claire acreditava sobre a própria origem.
O que muda com Julia e Henry como viajantes no tempo

Faz sentido que Claire tenha crescido achando que os pais morreram no acidente. No final do primeiro episódio de Blood of My Blood, “A Despedida”, o carro realmente capota durante as férias nas Terras Altas. O veículo cai em um rio e eles são arrastados pela correnteza, mas Julia e Henry sobrevivem.
Se autoridades locais encontraram destroços e nenhum corpo, a conclusão provável seria a pior. Sem testemunhas e sem rastros, a história teria parado ali.
Os dois primeiros episódios que estrearam no Disney+ mostram que Julia e Henry chegam a 1714, quase três décadas antes de Claire fazer o mesmo salto no tempo. Eles se separam de imediato, situação típica para quem atravessa as pedras sem preparo.
Julia é capturada e passa a trabalhar como criada para o avô de Jamie (Sam Heughan), Lord Lovat (Tony Curran). Henry, por sua vez, vira espião e conselheiro a serviço de um clã rival, os Grant. O cenário coloca os dois em lados diferentes e em rotinas perigosas, ainda mais para ingleses.
A mudança entra em conflito com o primiero episódio da série principal, Outlander. Claire não cita que os pais teriam morrido em Inverness, nem que a Escócia guardava algo pessoal.
Ela e o então marido Frank Randall (Tobias Menzies) escolhem a região para a segunda lua de mel com o objetivo de pesquisar a história da família dele, não a dela.

Se Ronald D. Moore e a equipe, ou a própria escritora Diana Gabaldon, já tivessem planejado esse enredo sobre Julia e Henry, tudo mudaria. Ao atravessar as pedras pela primeira vez, Claire possivelmente teria ligado os pontos e tentado procurar os pais no passado.
Sobra uma explicação: o Tio Lamb (Prentis Hancock) nunca contou onde os pais teriam morrido, nem que os corpos não foram achados. Dado o vínculo entre eles depois da adoção formal, isso soa improvável, mas ainda é uma saída possível.
Entre os fãs, há quem aposte que o ator George Kemp é o jovem Quentin Lambert Beachamp, o Tio Lamb. Ele não aparece nos dois episódios de estreia, o que indica que detalhes sobre Julia e Henry podem vir junto com a trajetória dele.
Muitas perguntas em aberto

Uma dúvida surge de imediato. Por que nenhum escocês olhou para Claire ao vê-la sair de Craigh na Dun e comentou que ela se parecia com Julia, outra inglesa que surgiu por ali anos atrás?
Logo no começo, Claire se apresenta como “Claire Beauchamp”, e não “Claire Randall”. No segundo episódio de Outlander, “Castelo Leoch”, Dougal MacKenzie (Graham McTavish) estranha a pronúncia não francesa do sobrenome. Mas nada disso faz alguém associá-la a Julia.
Julia cruza o caminho de membros dos clãs Fraser e MacKenzie, base da família de Jamie. A maioria das pessoas com quem ela cria laços, no entanto, já não está viva quando Claire chega em 1743. Isso reduz a chance de alguém reconhecer traços de família.
Do outro lado, pouco se sabe sobre o destino do clã Grant, onde Henry para primeiro. Algo aconteceu entre 1714 e 1743, já que os Grant aparecem com bem menos força décadas depois.
Também é possível que Julia e Henry tenham passado por quem, no futuro, conheceria Claire. Viviam em tarefas arriscadas, mudando de lugar e identidade. Encontros casuais podem ter sido raros ou passageiros.
Vale lembrar que Roger, genro de Claire (Richard Rankin), cruzou com parentes em suas viagens. Mesmo assim, ninguém comenta sobre ele quando Claire chega ao século XVIII. O silêncio não é exclusivo de Julia e Henry.
Para quem acompanhou os personagens em suas múltiplas fases, a nova série permite observar versões jovens de nomes como Jocasta (Sadhbh Malin), Colum (Séamus McLean Ross), Ned (Conor MacNeill), Murtagh (Rory Alexander) e, em especial, Dougal (Sam Retford). Cada aparição pode oferecer um detalhe que conecte os tempos.
Comparando linhas do tempo, há outra diferença importante. Sobre os pais de Jamie, Brian Fraser (Jamie Roy) e Ellen MacKenzie (Harriet Slater), Outlander já entrega elementos suficientes para prever o rumo do relacionamento. A história deles chega com contornos conhecidos, com menos surpresa.
No caso de Julia e Henry, tudo fica em aberto. Eles podem passar o restante da vida no início do século XVIII. Podem ter outros filhos, irmãos que Claire nunca soube que existiam. O episódio 2 de Blood of My Blood já revelou que Julia está grávida de novo. Eles também podem morrer antes de reencontrar a filha, ou atravessar para outra época.

Até o final do segundo episódio, não há confirmação sobre quando, como ou se vão se encontrar novamente. E, como a própria série já mostrou, isso pode se estender por bastante tempo, dependendo do plano dos roteiros.
Julia adotou Faith no passado?
Essas mudanças ainda estão ligadas a um detalhe do final da 7ª temporada de Outlander. Claire conhece uma menina chamada Fanny que carrega uma medalha com o nome “Faith” gravado e o desenho de uma mulher muito parecida com Claire.
Fanny canta uma música que seria impossível ela conhecer, “I Do Like To Be Beside The Seaside”, uma canção do século XX que Claire cantou para a filha, Faith. A partir daí, Claire começa a desconfiar que Fanny seja sua neta.
Se essa hipótese estiver certa, surge outra possibilidade: e se Faith tiver sido criada por Julia após Mestre Raymond levá-la ao passado? Nesse cenário, Outlander: Blood of My Blood não apenas altera a versão sobre a morte de Julia e Henry, como também aproxima a história de Claire de um elo familiar completamente inesperado.

Enquanto isso, a prequel segue explorando a vida nas Terras Altas com o olhar voltado aos Fraser, costurando relações, disputas e escolhas que têm consequências no que vemos em Outlander. Para Claire, a vida que parecia começar em 1940 passa a ter raízes mais profundas em 1714, bem antes de ela tocar as pedras.
Outlander e Outlander: Blood of My Blood estão disponíveis no Disney+. A nova série derivada lança episódios inéditos aos sábados, por volta de 4:00 AM (horário de Brasília). Serão 10 episódios na primeira temporada.