
Lançado em 2009, A Princesa e o Sapo foi um dos últimos filmes em animação 2D da Disney e o primeiro com uma protagonista negra. A história acompanha Tiana, uma jovem trabalhadora de Nova Orleans dos anos 1920, que sonha em abrir seu próprio restaurante. Ao lado do príncipe Naveen, transformado em sapo como ela, Tiana vive uma aventura no pântano enquanto tenta retomar sua forma humana.
O romance entre os dois avança aos poucos, seguindo um formato clássico da Disney. Mas o que chama atenção está no final: ao invés de se mudar para o reino de Naveen, Tiana realiza seu sonho de abrir um restaurante, com o apoio dele e de seus amigos.
O ponto curioso é que o restaurante é frequentado por pessoas de diferentes origens e etnias, algo que foge ao padrão do Sul dos Estados Unidos nos anos 1920, quando a segregação racial era a norma.
Esse detalhe pode passar despercebido, mas mostra uma escolha importante do filme ao retratar um ambiente inclusivo em um período marcado por divisão racial.
Diferenças sociais aparecem logo no início

Embora não seja um filme centrado em questões raciais, A Princesa e o Sapo mostra, de forma sutil, o contraste entre as condições de vida da comunidade negra e a elite branca de Nova Orleans.
A diferença fica clara desde o início, quando Tiana sai da mansão da amiga Lottie e volta para sua casa simples com a mãe. Na vida adulta, esse contraste continua visível: Tiana trabalha em vários empregos ao mesmo tempo, enquanto os personagens brancos ricos vivem com mais conforto e tranquilidade.
O momento mais direto ocorre quando Tiana tenta comprar o prédio para abrir seu restaurante. Mesmo tendo o dinheiro necessário, ela é barrada pelos irmãos Fenner, dois banqueiros brancos que rejeitam a proposta com uma justificativa condescendente: “Uma mulher como você talvez devesse pensar duas vezes antes de tentar abrir um negócio”. Essa frase dá o tom da resistência social que Tiana enfrenta.
A personagem Lottie quebra estereótipos

Outro elemento que se destaca é a construção da personagem Charlotte LaBouff, filha de um homem rico e melhor amiga de Tiana. Em histórias desse tipo, o papel da “rica mimada” costuma ser o da rival ou antagonista. Mas aqui, Lottie segue um caminho diferente.
Mesmo sendo um pouco egocêntrica, ela se mostra uma amiga verdadeira. Em vez de atrapalhar Tiana ou disputar Naveen com ela, Lottie apoia o casal quando percebe que há sentimentos reais entre os dois.
Essa abordagem foge do esperado para uma personagem rica e criada com privilégios no sul dos Estados Unidos do início do século XX. Em vez de ignorar ou perpetuar as injustiças da época, Lottie escolhe oferecer apoio à amiga.
Um final com um toque a mais de significado

A Princesa e o Sapo é, em essência, uma história sobre esforço, amizade e realização pessoal. Mas ao inserir elementos discretos sobre desigualdade racial e ao mostrar um final em que Tiana conquista o próprio espaço sem abrir mão de sua identidade, o filme adiciona uma leitura que se conecta com o contexto histórico real dos EUA.
A presença de um restaurante bem-sucedido, frequentado por um público diverso em uma época de segregação, é um detalhe importante.
Tiana não apenas realiza seu sonho, como constrói um espaço inclusivo em um ambiente que, na vida real, teria dificultado muito mais esse caminho.
A Princesa e o Sapo está disponível no Disney+.