
A série Loki teve um papel essencial para o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), especialmente em um período em que muitos projetos do estúdio estavam recebendo recepção fraca. A trama do Deus da Trapaça serviu como base para o funcionamento de todo o conceito de multiverso dentro da Marvel, com reflexos diretos em filmes como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa.
Mais do que contar uma história, Loki ajudou a Marvel a organizar sua nova fase e influenciou inclusive a forma como outras produções foram desenvolvidas.
Loki estabeleceu as regras do multiverso
Em Vingadores: Ultimato, a Marvel apresentou pela primeira vez sua versão de viagem no tempo. A ideia de que mudar o passado não altera automaticamente o futuro já começou a mudar o que o público estava acostumado a ver nesse tipo de história.
Quando alguém volta no tempo, aquele passado vira seu presente, criando novas linhas do tempo paralelas que se afastam da realidade original.
Foi em Loki que isso foi aprofundado. A série apresentou a Autoridade de Variância Temporal (TVA), que gerencia essas diferentes linhas temporais. Assim, a Marvel passou a chamar sua linha principal de “linha do tempo sagrada”.
Isso abriu espaço para considerar como válidas outras realidades, incluindo filmes que antes não faziam parte do MCU, como os do Homem-Aranha dirigidos por Sam Raimi ou Blade.
A série também permitiu que a Marvel decidisse quais eventos com alterações no tempo seriam aceitos ou não. Por exemplo, a fuga de Loki da Torre dos Vingadores foi considerada fora da linha do tempo principal, e por isso ele foi “podado” pela TVA. Já as viagens de Steve Rogers e Peter Parker foram permitidas porque estariam de acordo com essa linha do tempo sagrada.
De certa forma, a Marvel passou a agir como a própria TVA, escolhendo quais personagens e histórias seguiram adiante dentro do plano geral das Fases 4 e 5.
Roteirista de Loki ajudou a manter a coerência em Doutor Estranho 2

Loki teve consequências diretas em outros filmes e acabou se tornando um ponto de referência para toda essa nova fase do MCU. Tanto que o roteirista da série, Michael Waldron, trabalhou junto com a equipe criativa de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura para garantir que as regras já estabelecidas não fossem quebradas.
Em entrevista ao Digital Spy, Waldron explicou: “Eu entrei com conhecimento institucional sobre o multiverso e consegui alinhar a equipe criativa de Doutor Estranho comigo”.
Embora o filme de Stephen Strange não mexa diretamente com o tempo, ele aborda viagens por diferentes realidades ramificadas.
Waldron admitiu que, ao criar Loki, não imaginava que a série se tornaria a base do multiverso. “Teve momentos em que pensei: ‘Droga, queria não ter definido isso de forma tão clara’”, disse ele.
Considerando que Loki era um experimento novo para a Marvel, é curioso ver como a empresa confiou tanto na equipe da série, deixando com eles a responsabilidade de definir diretrizes para toda a saga do multiverso.
As implicações na construção do MCU

Além de mudar as regras internas do universo Marvel, Loki também trouxe uma abordagem diferente ao mostrar menos ação e mais reflexão sobre o próprio personagem. A série mergulha no lado mais íntimo de um dos vilões mais conhecidos do estúdio.
Nos primeiros episódios, acompanhamos o agente Mobius de Owen Wilson interrogando Loki em cenas que lembram sessões de terapia.
Mobius faz Loki encarar tudo o que já viveu, obrigando-o a se ver de outro jeito, sem poder se esconder atrás de truques ou arrogância. A série mostra como o personagem começa a refletir sobre suas decisões e passa a enxergar como o orgulho e o ego atrapalharam sua vida.
O arco também inclui o envolvimento com Sylvie, a variante feminina de Loki. Essa relação se transforma em uma metáfora sobre aprender a aceitar a si mesmo.
Mesmo sendo uma série sobre multiverso, Loki se destacou por colocar o foco na jornada pessoal de seu protagonista. O resultado foi uma história que transformou um vilão recorrente em um dos personagens mais desenvolvidos do MCU, com uma trajetória que teve começo, meio e fim.
Mesmo com o retorno em Vingadores: Doomsday, assistir às duas temporadas já entrega uma experiência completa.
Personagens mais desenvolvidos voltaram a ganhar espaço

O que Loki mostrou serviu de inspiração para outros projetos da Marvel. Em Deadpool & Wolverine, por exemplo, há várias viagens entre dimensões e personagens, mas o foco continua sendo nos protagonistas e em suas histórias de redenção. O mesmo vale para as produções mais recentes como Demolidor: Renascido e Thunderbolts*, que também foram reconhecidas pelo cuidado com o desenvolvimento dos personagens.
Mesmo com diferentes equipes de roteiristas e atores, o sucesso de Loki ajudou a Marvel a lembrar que o que mais funciona são personagens bem construídos. Em Thunderbolts*, por exemplo, mesmo com a introdução do Sentinela, considerado o personagem mais poderoso da Marvel, a história seguiu centrada em figuras com moralidade ambígua em busca de algum tipo de redenção.
Nesse cenário, Loki acabou influenciando não só o conteúdo das histórias, mas também a forma como a Marvel tem conduzido suas produções nos bastidores.
Todos os episódios de Loki estão disponíveis no Disney+.