Em 1981, um submarino soviético classe Whiskey, identificado como U137, encalhou na costa da Suécia, criando um impasse diplomático que tensionou ainda mais as relações entre o Ocidente e o Bloco Soviético. O incidente colocou à prova a neutralidade sueca e gerou momentos de incerteza sobre um possível conflito global.
Agora, essa história ganha uma abordagem inesperada na série Whiskey on the Rocks, uma sátira sobre a Guerra Fria que acaba de estrear no Disney+.
A produção sueca já fez sucesso em sua exibição inicial na emissora SVT e traz uma equipe experiente, incluindo Jonas Jonasson, autor de O Centenário que Fugiu pela Janela e Desapareceu, e Patrick Nebout, produtor do filme baseado no livro.
O projeto também conta com o roteirista Henrik Jansson-Schweizer, que inicialmente planejou a série como um drama, mas percebeu que o tom satírico fazia mais sentido.
Uma crise geopolítica transformada em comédia
Jonasson relembra bem o impacto do incidente na época, como relatou ao Deadline: “Os dias do submarino em outubro de 1981 foram tão reais quanto surreais. Eu tinha 20 anos e lembro como a Suécia e metade do mundo prenderam a respiração por dez dias inteiros.”
A série brinca com figuras políticas da época, como o então presidente dos EUA, Ronald Reagan, e o líder soviético Leonid Brezhnev.
O tom cômico se estabelece logo no primeiro episódio, quando dois pescadores suecos observam um submarino estrangeiro encalhado na costa e demoram a processar a situação.
Enquanto isso, Reagan aparece com seu icônico chapéu de cowboy praticando tiro ao alvo com a foto de Brezhnev, que por sua vez afoga suas preocupações em vodka e tem dificuldades em lembrar com quem está conversando.
Para o roteirista Jansson-Schweizer, a ideia de um thriller tradicional não funcionava nesse contexto: “Tínhamos Brezhnev, que era senil e alcoólatra; Reagan, que era um novo presidente; a OTAN no meio disso tudo e um submarino que encalhou perto da maior base naval da Suécia. Como transformar isso em um suspense? Era impossível. Então, Patrick me ligou e disse: ‘E se fizermos uma sátira?’”
A estratégia funcionou, e a série consegue equilibrar o absurdo com elementos reais da crise, sempre lembrando o espectador de que, apesar do humor, a história se baseia em eventos reais.
Elenco internacional
Com as greves de Hollywood afetando as filmagens, a equipe optou por um elenco internacional, trazendo atores lituanos para interpretar os personagens russos, incluindo Kestutis Stasys Jakstas como Brezhnev, e escalando o britânico Mark Noble para viver Ronald Reagan.
O diretor Björn Stein destaca que a produção não toma partido na política internacional: “Não estamos apontando dedos. Suecos, russos, americanos – há idiotas em todos os lugares. A questão central da série é mostrar que o poder muitas vezes é mal utilizado e que a diplomacia é essencial.”
Para manter o equilíbrio entre comédia e tensão, Stein adotou uma abordagem curiosa na produção: “Não contamos para o diretor de fotografia nem para o designer de produção que era uma comédia. Queríamos que eles abordassem as cenas como um thriller tradicional. Isso nos permitiu alternar entre momentos engraçados e sérios sem quebrar o tom da série.”
Com um mundo cada vez mais polarizado e tensões internacionais constantes, Whiskey on the Rocks revisita um evento histórico e o transforma em um comentário engraçado sobre o presente.
Jonasson conclui com uma reflexão sobre a recepção global da série: “Fico feliz que a série será exibida no mundo todo. Espero que Putin, Trump e outros assistam, riam e tirem alguma lição disso.”
Whiskey on the Rocks já está disponível no Disney+.